Um tempo que não volta mais
“Meu filho, acorda, já está na hora!!!! Olha que você vai perder a hora, não vai poder entrar na sala e ainda acaba suspenso. Acorda, pelo amor de Deus!!!!” – todo dia era sempre igual: eu querendo ficar na cama, minha mãe me sacudindo para eu acordar e encarar mais um dia de colégio. Invariavelmente, reclamava. Invariavelmente, minha mãe retrucava, dizendo “vai chegar o dia em que sua maior saudade será seu tempo de estudante”. Continuava resmungando enquanto ela me vestia quase à força, continuava reclamando enquanto engolia o café rapidamente pra não me atrasar, seguia injuriado no ônibus que pegava passava em uma estrada vicinal 02 (dois), Km da minha casa, chegando no ponto encontrava meus amigos, até chegar ao Colégio que ficava no centro da cidade de Perobal, na rua Farani número 134 era o estabelecimento de ensino. Houve ocasiões em que me aproveitei da disciplina das freiras para chegar atrasado e ser impedido de entrar em classe – geralmente mancomunado com outros colegas tão ou mais malandros do que eu. Até o dia em que Senhor Paulo, nosso severíssimo diretor, manjou o lance e acabou com a graça. Podíamos não entrar em classe, mas éramos obrigados a encarar o tal estudo dirigido: fazer os deveres e outras tarefas sob supervisão direta do supervisor ou de algum professor que estava de plantão.
Foi na cantina do colégio, nos meus primeiros dias na nova escola, que, aos 10 anos, experimentei a delícia de comprar um lanche – cachorro quente com um molho delicioso e Coca, arrematados por um pirulito cor-de-rosa que nós todos adorávamos. Até então, menino de jardim da infância, levava o lanche de casa – umas coisas muito pouco apetitosas que vovó enfiava na lancheira. Odiava o tal do lanche da vovó. Escolher e comprar o próprio lanche foi apenas uma das deliciosas pequenas liberdades que passamos a ter naquela instituição tão liberal em comparação aos severos internatos frequentados pela elite da cidade – Quem era do sítios coitados, pareciam ser de outra galáxia, havia separação de classe, mas naquela época tudo pra gente parecia normal.
Volto no tempo e hoje volto mais uma vez à escola, na esperança de revela fico feliz, e com um imenso sentimento de alívio: Mas um grupo empresarial transformou em Universidade particular, o lindo palacete em granito, onde passei, sem dúvida, os melhores momentos de minha infância e adolescência (junto com as férias gostava da vida no campo, liberdade total) onde conheci os grandes e queridos amigos, sendo que me acompanham até hoje, mais de 50 anos depois. E outros a muito não a vejo . Nesses tempos de curtições e cutucadas no Facebook, vamos combinar que é uma marca e tanto.
Estávamos todos consternados, muitas vezes injuriados com a tal limitações, e da incerteza quanto nosso futuro. O aquela linda propriedade virou canavial, as casas foram posta abaixo para abrigar mais uns pés de cana, a cidade já pequena parece encolheu, poderá os moradores envelheceram e novos assim que "criarem asas" voaram para outro local.
Não vejo sofrimento para os jovens estudarem ali, por consequencial também na percebo aquela euforia de outrora, mas percebo pairar no ar algo me preocupa a ideia fixa de assim que se formarem procura outros caminhos longe dali.
Nada será como antes, claro que não, mas fomos poupados da violência maior. Vejo no milagre a ação direta do diretor e dos professores, claro, os habitantes chamados de pacatos, a padroeira da cidade, que vela desde sempre pela nossa vida, moldada em escultura que fica na entrada do prédio principal e em torno da qual nos reuníamos uniformizados para a foto anual. Os mais altos ficavam bem ao lado da santa. Os mais baixinhos, sentados a seus pés. Eu sempre fiquei na fila do meio. Hoje peno para encontrar, nessa montanha de retratos da vida que não consigo organizar, aquele menino de calça cinza, camisa branca, mocassim preto, cabelos lisos castanhos, no meio dos meus outros queridos, todos no mesmo estilo e pose. Saudade de nós.
Falando nela: a saudade está sempre ali, como mamãe garantia todos os dias enquanto lutava com a minha malandragem. Sábia mamãe: estou sempre constatando como seus ensinamentos tinham fundamento. E ouso repetindo todos estes a minha esposa a nossa neta de 8 anos.
Bela menina é boa aluna e ama a escola que frequenta – o que não a impede de repetir os “malfeitos” do avô em alguns dias. Volta e meia revivo a minha mãe: “você vai sentir saudade desses tempo, você vai querer de volta esses dias!!”
Entendo agora o que não entendia enquanto lutava pra pular da cama. Nunca mais voltam os dias da inocência, do descomprometimento, das pequenas e das grandes descobertas. Bater a porta da casa e sair pra vida. Os melhores dias. Aqueles que só voltam de visita, em breves momentos, quando já vai longe a nossa mocidade. Quando se tivemos muita, muita sorte, e muita, muita competência, de promissoras criaturas passamos a referências para os promissores que ainda virão.