TENTANDO RETOMAR

Preciso escrever alguma coisa. Estou emperrado, faz tempo. Nem uma ideiazinha me tem vindo. Branco total.

Será que acabou o gás que me permitia produzir as outrora costumeiras crônicas? Voltei a ler cronistas famosos para ver se me inspiro, mas até agora...nada. Pensei em trazer de volta Dona Cremilda, mas não tive coragem. Ela me proporcionou momentos de grande alegria. Tinha um jeito especial aquela senhora, Dizia as coisas a seu modo, mas sempre marcadas por profunda coerência.

Fui mais longe. Que tal um conto? Remexi a me- mória para ver se por lá encontrava motivação. Qual o quê! Quem sabe, agora que fico muito tempo em casa, me brota um novo romance? Só a trabalheira de ter de anotar as características de cada personagem já me faz quase desistir.

“Volta às crônicas, homem! Escreveste mais de cinquenta delas, algumas até bem razoáveis”, insistem os amigos

É, parece que este caminho é o mais lógico. Vou passar a observar novamente o que ocorre à minha volta e sentar diante do computador. Se nada sair, parto para o Netflix, cheio de filmes que talvez possam me inspirar.

Não aguento mais a rotina da solidão: acordar, escovar os dentes, preparar o café da manhã, arrumar a casa (às vezes), sair para uma caminhada, pegar revistinhas de jogos no jornaleiro, fazer compras no Super-mercado (ou remédios na farmácia), buscar o almoço no Bar do Pinto, lavar a louça, fazer jogos das revistinhas, ver esportes na TV, assistir a um velho filminho dos bons tempos, gravado em DVD, lanchar, voltar à TV, lavar a louça, ir ao WhatsApp para ver se alguém está a fim de

trocar umas abobrinhas, deitar, ler algum livro ou partir para o criptograma, até meia-noite, quando apago a luz e fico cantando, mentalmente, o Samba do Avião, até que o sono venha.

Que tal a minha deliciosa rotina?

Tenho de voltar a ocupar o meu tempo com a atividade que mais me empolgou na vida: escrever. Tenho de aproveitar, enquanto a memória está viva. Prometo, a mim mesmo, que volto às crônicas o mais breve possível. Caso contrário, só me resta torcer para que a “final curtain” baixe rapidinho!