São Francisco, o elegante

                          (Na festa do Pobrezinho)

                                   Onde houver ódio,

                                    que eu leve o Amor

                                             Francisco de Assis

          1. Em uma planície da Úmbria, Itália, nas proximidades da medieval Assis, cidade natal de São Francisco das Chagas, visitei, com Ivone, a bela Basílica de Santa Maria degli Angeli. É uma enorme igreja franciscana, construída entre 1569 e 1697, que encantou a mim e a ela. 

          2. Franciscana porque, no seu interior, os seráficos mantiveram em pé a igrejinha da Porciúncula. Nessa igrejinha, nasceu a Ordem dos Frades Menores. Nessa igrejinha Francisco de Assis morreu, com 44 anos, no dia 3 de outubro de 1226. Seu enterro foi no dia seguinte, 4 de outubro, data em que ele é festejado pela Igreja Católica.

          3. Com a visita à basílica, iniciei minha segunda peregrinação à terra do Poverello. Subi o monte Subásio. Nesse serrote, Deus construiu a cidade de Assis e a entregou a São Francisco. Que a desfrutou, primeiro como um mancebo traquina, e depois como o santo dos quatro cantos da Terra.

          Percorri as ruas estreitas e enladeiradas de Assis admitindo o impossível: encontrá-lo em uma das muitas esquinas da sua bonita cidade. Pensamento igual teve o ex-frade e respeitado Teólogo Leonardo Boff, e disse, em um de seus artigos, que recortei e guardo.

          4. Em Assis, também nasceu o grande amor de Francisco, a jovem, bela e rica Clara. Chiara d'Assis nasceu no dia 16 de julho de 1194 e morreu em 11 de agosto de 1253; foi canonizada em 23 de agosto de 1255, pelo Papa Alexandre IV.

          Atraída pela pregação de Francisco, dele se aproximou e se tornaram amigos. Um dia, Clara acompanhou Francisco, e tornou-se monja clarissa. Ordem fundada por são Francisco. Abandonou o mundo e se recolheu a um convento de freiras contemplativas, ou seja, rigorosamente enclausuradas, não podendo sequer botar o nariz fora da janelinha do seu parlatório.

          5. Clara, que amava Francisco - um amor sem sexo -, estiveram unidos para glorificar e servir à Deus. Certa ocasião, manifestou o seu desejo de comer ao lado do Pobrezinho. Ele, porém, não admitia satisfazer o desejo de Clara. Os irmãos de hábito de Francisco, entretanto, davam o maior apoio à Clarissa.  E até aconselhavam Francisco a satisfazer Clara. Francisco resolveu, então, perguntar aos seus confrades: "Parece-vos que devo atendê-la?" Todos disseram sim. Surpreendendo,Francisco declarou: "Pois se vos parece, a mim também". E cuidaram de escolher o local.

          6. Mas foi Francisco quem escolheu o lugar do jantar com Clara. Não pensem que escolheu o melhor restaurante de Assis. Disse ele : "... quero que esta refeição se faça em Santa Maria dos Anjos". Alegou que Clara vivera muito tempo reclusa no seu claustro e que nas proximidades da igreja, ela se sentiria mais agradável. Estaria diante do templo onde fora feita "esposa de Jesus".            Completou, pedindo que pusessem a mesa sobre "a terra nua". E. elegantemente, disse: "Ali comeremos juntos em nome de Deus". 

          7. O livro "I Fioretti", de onde tirei a notíca desse encontro de Francisco e Clara num jantar ao nivel do chão, não dá maiores informações de como se desenvolveu esse extraordinário ágape, rigorosamente franciscano, e o que aconteceu depois. Posso imaginar a alegria de Clara de Assis jantando ao lado do seu bem-amado... em Cristo, sim.