Convivência e transformação
Sempre achei a convivência superestimada. Durante muito tempo esse medo que algumas pessoas têm da solidão foi algo incompreensível. Para mim a solidão é tão cheia de beleza quanto a convivência, ambas têm seus prós e contras.
A solidão nos leva a pensar muito além, nos leva a ver o mundo com vários olhos, nos faz andar léguas sem precisar se mexer. Pode te inspirar e pode te forçar a uma viagem interna, que mesmo dolorosa tem seus benefícios. A solidão te aproxima mais de Deus, te faz estudar, ler, pensar, entender e questionar. Além do prazer de contemplar o brilho da lua ao som do completo silencio.
Mas, e eu tenho aprendido que na vida sempre tem um mas. A convivência também tem suas belezas e seus encantos. Eu precisei experimentar para sentir. Dentre tantas coisas como boas risadas, bons debates, bons silêncios compartilhados e tantas outras coisas eu percebi que a coisa mais linda da convivência é a transformação.
Depois de conviver um tempo com outras pessoas em um determinado momento você olha para trás e pensa “puxa eu mudei”. Talvez você esteja escutando novas músicas, falando sobre novos assuntos, experimentando sensações nunca antes provadas, e por um instante você não sabe ao certo quando começou a agir assim, quem começou primeiro? Quem apresentou esse novo cantor ou esse novo sabor para quem? Quando eu comecei a me importar com isso e deixei de me importar com aquilo?
Nesse momento você deve estar pensando que todos nós estamos em constante transformação e isso independe de conviver com outras pessoas ou não. É verdade. Mas o lindo da transformação causada pela convivência é que de alguma maneira, em algum momento você pegou um pedacinho de alguém e em um outro você deu o seu pedacinho, e esses novos pedacinhos formaram parte de um novo ser.
Não é lindo saber disso? Em algum momento você entrou em uma fase da sua vida e era completa de você mesma. E, depois você continua completa, mas dessa vez com pedacinhos de outros e outros estão com os seus, e quando você tem um pouquinho de cada pessoa elas nunca mais saem de você, agora o que você aprecia e fecha os olhos de tanta felicidade é fruto de um pedacinho de alguém e sempre que vier essa sensação é como estar novamente juntos.
Hoje você olha para trás e percebe o quanto sua mente estava fechada para alguns assuntos por não ter o ponto de vista do outro, mas com o tempo e a convivência a visão se expandiu. Isso é a convivência, a expansão da mente, como se sua visão estivesse com o zoom habilitado e a cada dia o zoom diminuísse e a visão aumentasse, e o que antes não estava no campo de visão agora é claro e visível. É como pegar um pouco os olhos emprestados do outro para entender o que se passa onde não se via. Você foi transformado. Eu fui transformada.
Será que agora sou eu superestimando a convivência? Pode ser... talvez seja o fruto de alguns pedacinhos que agora eu carrego, e que bom...