ANTIGA MÁQUINA DE ESCREVER
ASDFG HJKLÇ
Era assim que começava e se repetia à exaustão a primeira aula do Curso de Datilografia (não tenho mais certeza porque minha memória, às vezes, me prega peças), afinal já se passou quase meio século.
Comecei esse curso quando arranjei um emprego como Auxiliar de Exportação, após minha graduação em Letras Português/Inglês na UFPR. Eu não tinha prática em datilografia e precisava, urgentemente, aprender. Recebi da Firma, uma sala só para mim, equipada com uma bonita mesa, cadeira ergonômica, armários para os arquivos, ar condicionado e banheiro privativo. Não podia abrir mão desse luxo e nem do bom salário.
Também não podia amarelar diante daquela máquina de escrever elétrica, tinindo de nova, que fora colocada à minha disposição. Buscar uma escola de datilografia e treinar, treinar, e treinar era imperativo e foi o que fiz. Foi boa ideia e atitude prudente, logo eu estava datilografando com rapidez, usando as duas mãos e escrevendo muitas cartas por dia e romaneios de mercadorias, em seis vias, com carbono. Não podia errar muito, exceto pequenos deslizes que cobria com corretivo líquido usando aquele pincelzinho salvador. Não existiam ainda as copiadoras Xerox ou de outra marca, apenas o mimeógrafo que fazia cópias de má qualidade, depois de espalhar muita sujeira.
E, assim, começou minha vida profissional na Empresa onde fiquei trinta anos, até aposentar-me. Felizmente, sempre fui muito obstinada e não costumo desistir ao primeiro revés. Logo vieram mais novidades somar-se à máquina de escrever: telex, fax, copiadora, e eu fui aprendendo a usá-los para melhorar meu desempenho. Por último chegou o computador e, mais uma vez, não esmoreci. Comecei a usá-lo sem nem sequer fazer um curso. Meu superior colocou um monitor, uma CPU e uma impressora sobre minha mesa e nem perguntou se eu era capaz de usá-los.
Foi um desafio e tanto, porém aceitei-o. Era a modernidade chegando e eu não podia me atemorizar. Hoje, aposentada, sei o básico para usar o computador a meu favor, escrevendo meus textos literários e divertindo-me com tudo que encontro nele. Adquiri muita rapidez na digitação e tudo começou com aquela velha máquina de escrever, onde aprendi datilografia, começando e repetindo:
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