A distribuidora de panfletos
A distribuidora de panfletos, na feira, livre e ensolarada, a quem passa, apressado ou alcoolizado, distribui mais que panfletos: distribui sorrisos, alguns abraços e, estendendo o santinho, toda sorridente, balbucia vários "Aceita?". Há quem não aceita, e ela não se magoa não. Diz, para surpresa geral, "Obrigada!", e segue em direção a mais um cliente. Muito educada, a moça que distribui panfletos, na feira, livre, ensolarada. Fala tão baixinho, que chega a conquistar com sua moderação. Ótima pregadora em som baixo, a distribuidora de panfletos, na feira, livre, ensolarada. É alta, sorridente e loira, a moça que distribui panfletos. Isso explica o destaque e a pregação. Ajuda a se destacar em meio à multidão de feios, barulhentos, agitadores. Fico pensando, comigo e meus anônimos, para rimar: "Que bochechas lindas tem a moça que distribui panfletos, na feira, livre, sorridente, quase silente". Ao sorrir, surgem-lhe lindamente uns buraquinhos muito sensuais, nas bochechas, e então eu lamento por ser um homem que bebe. Ora, se eu fosse dado à sobriedade, certamente não veria essas fantasias. Seria menos infeliz, tenho quase certeza, e meu cardiologista me diria, após aferição de minha pressão: "12x8. Damião, sua pressão está ótima! Você parou de beber???". E eu mentiria, diria que "Sim". Mas a verdade é que eu deixei, apenas, de frequentar a feira municipal de União dos Palmares, em época de eleição, aos sábados ensolarados, evitando assim me depara com moças loiras, altas, sorridentes, que falam baixinho, mais de uma vez e para sempre, estendendo um santinho: "Você aceita?"