As coisas acontecem como têm que acontecer
A gente não vê o tempo passar, ele é invisível aos nosso olhos mas inexoravelmente ele vai deixando marcas; nos humanos, nos animais, na natureza, no imobilizado.
Quando somos crianças queremos á viva força ser mais velhos. Sonhamos com a maquilhagem e os saltos altos. Parece que o tempo pára e não arreda pé.
O tempo avança, atingimos a maioridade e as expectativas são goradas. Continua a haver gente má, gente egoista e mal formada.
Queremos ser independentes, não queremos que ninguém mande em nós. Os mais velhos têm a mania de mandar nos mais novos, os pais acham que são donos dos filhos e as pessoas não têm dono. A verdade é que muitos vivem subjugados e com "dono" demasiado tempo da sua vida.
Quando somos crianças, precisamos que cuidem de nós, que cuidem, não que nos faltem ao respeito e atentem contra a nossa idiossincrasia.
É comum ouvir-se dizer, é criança não manda.
As crianças não têm voz ativa na matéria e os adultos abusam delas, como se elas fossem uma massa amorfa, como se não tivessem pensamentos, sentimentos, vontades e quereres. O abuso manifesta-se de várias formas.
Hoje estou na reta final da minha viagem e eu aceito calmamente o meu percurso.
Há pessoas que dizem; se fosse hoje e pudesse voltar atrás, teria feito as coisas de maneira diferente.
Eu não mudava nada, embora tenha sido um percurso acidentado que me enriqueceu e fez crescer.
Ás vezes vamos por um caminho e temos um lampejo de bom senso, bom senso é sabedoria, que nos faz mudar de rumo. Há pessoas que dizem, o destino não existe. Está tudo na nossa mão, somos nós que fazemos o destino.
Por mais voltas e reviravoltas que a gente dê, tudo acontece como tem que acontecer. Há coisas que na hora ou mais tarde, acabamos por compreender, outras porém nunca compreenderemos, porque estão muito para além da compreensão terrena, mas que tudo tem um propósito, lá isso tem.
Se fosse possível eu também não queria voltar ao passado para viver a vida de forma diferente. As coisas acontecem como têm que acontecer e é assim que aprendemos a lidar com as situações, a conhecer as pessoas, a tirar conclusões, a assimilar ensinamentos e arquivar as coisas ruins.
Quero ir em frente, encontrar-me com coisas novas que ainda me excitem pela novidade, pelo desconhecido, pela transcendência . Esta viagem termina aqui, a existência continua para lá do azul e é com alegria, prazer e paz que quero viver este último troço.
Há quem defenda que quando nascemos escolhemos a familia onde queremos nascer, então eu acredito que tive que passar pelo que passei porque eu precisava disso, talvez para excruciar erros de outras vidas. Nesta esfera, jamais vou poder saber o que fiz noutras vidas, se insistir no assunto é pura especulação.
Todos pagam por aquilo que fazem, eu acredito nisso e por isso aprendi a compreender e a perdoar.
Os que me prejudicaram precisaram da minha ajuda e eu ajudei-os com amor, cuidado e carinho.
Eu sei que o sofrimento pode implicar uma consequência dual, doce ou azeda, felizmente que faço jus ao meu nome.
A missão do ser humano é ajudar, partilhar o amor que tem no coração, praticar a empatia e a humanidade.
A vida é uma escola, cujas lições vão ficando gravadas na pele para que jamais as esqueçamos. Muitas vezes me virei do avesso para que a alma e o coração também tivessem acesso. O edifício escolar começa sempre na família e progride para a sociedade.
Hoje estou em paz comigo, há muito que ficaram para trás os longos anos de revolta e inquietação.
A intriga, a inveja, ainda insistem em morder-me os calcanhares. Só se dá dentadas em fruta madura, parafraseando o ditado popular que diz: Só apedrejam a árvore que tem fruta madura,
@Maria D. Reis
01/09/22