Devolva-me

 

 

 

Já imaginou alguém pedir de volta todos os presentes que deu ao outro durante o namoro ou casamento? Ou pior, querer todas as fotos “nudes” que foram tiradas durante o relacionamento, alegando direito à memoria afetiva?

Li recentemente que uma mulher em Utah, Estados Unidos, terá de entregar uma série de fotos pornográficas ao ex-marido. Segundo as informações veiculadas, a mulher foi casada por 25 anos e, durante o processo do divórcio, foi obrigada a entregar uma cópia de um álbum com nudes para o ex-companheiro para que ele possa manter as mensagens amorosas que acompanham como parte da "memória visual". 

Isso nem é novidade, pois alguns casais de namorado quando terminam o relacionamento pedem de volta os presentes que se deram. Alguns que fizeram tatuagem, tentam de todas as formas apagá-las.

Dando asas à imaginação, fiquei imaginando, como fazer quando ocorre o término de relacionamento  entre dois poetas, será que teria como devolverem as poesias que escreveram um para o outro?

Poesia não é tatuagem, a palavra depois de proferida não volta. Por mais que o poeta mude a poesia ou invente uma história pra justificá-la, ela carrega em si a gênese dos sentimentos que não se repetem no tempo. Aquilo que foi escrito se eterniza pelo momento e sentimentos ali envolvidos, ainda que findos, posteriormente. Cada poesia é única por ser a inspiração do poeta naquele instante, por mais que se repita todo o cenário que a ensejou, a poesia não será a mesma.

Partindo desse pressuposto, será que o amor entre poetas é imortal como as letras? Será que alguém tem o direito de apagar uma poesia escrita para outra pessoa?  Será que uma poesia escrita para alguém vale menos que uma foto ou será que ela também faz parte da memória sentimental dos envolvidos?  Sei não… continuar aqui com minhas elucubrações.