O Enorme Mundo Pequeno
Passou a olhar os longes como quem não via. Fazia parte daquele espaço, do enquadramento da janela nua de vidros sempre limpos. Olhava a paisagem imóvel, a estrada sem gente, a vegetação a escorrer pela encosta até ao começo do asfalto que parava abruptamente o verde e impedia que avançassem as dálias da avó ou os coloridos malmequeres selvagens, doces e frágeis, indefesos.
Não fora o fumo da beata, o passar da língua nos lábios e o meu avô pareceria de pedra. Os pensamentos, disse, fazem com que pare tudo. Umas vezes vejo o que tu vês, outras, adivinho e a maior parte do tempo crescem os mínimos até ganhar a minha atenção. Depois, em gesto imperceptível, deixou que a formiga, presa no vaso das begónias recentemente regado, subisse pelo dedo, passasse por sua gentileza ao parapeito da janela e se salvasse da solidão.