Amizade Verdadeira
Minicrônica por Gecildamarina
Pois então, seu João, aquele do garrote sumido, aos olhos dos moradores de sua região, é um homem muito bom, que zela pelas amizades. É muito comum a comunidade nordestina prestigiar qualquer tipo de festa, seja de igreja, de políticos, bingos comunitários ou até mesmo uma comemoração de aniversário de algum morador importante, digo, de destaque social.
Num dia desses haveria um bingo com prêmios fabulosos em homenagem ao aniversário de um politico das redondezas. Momento em que as ruas ficam notadamente aglomeradas num vai-e-vém de pessoas ao destino do local da realização do evento.
Um vizinho de seu João é cadeirante, faz parte de sua rotina ficar na calçada embaixo de uma árvore, desde que acorda até horas da noite. Entra em casa apenas para cumprir necessidades básicas. Seu João sempre faz companhia ao amigo.
Neste grande dia, de tardezinha para o anoitecer, todos em preparo pra essa organização- o bingo.
Quase irreconhecível, seu João numa camisa de mangas compridas, uma bermuda meio às canelas, bota e um chapéu e, como de costume, uma garrafinha de cachaça da mais simples no bolso da bermuda. Junto ao amigo que ele sem nenhuma intenção de preconceito ou algo parecido o chama de aleijado. Parte das pessoas simples da região ainda utiliza esse tipo de termo. "Vamos, meu amigo, ao bingo?!", disse seu João quase numa intimação.
Pois, seu João, que nunca permitiria se divertir sem o amigo, vai empurrando a cadeira cuja rua em cascalho, buracos e uma ladeira grande, tornam os dois quilômetros muito mais dificeis. Porém, com muita alegria e cansaço chegaram ao destino desejado. Talvez nem tenham alçando o bingo mas se divertiram muito, só observar os registros do retorno pra casa.
Quando o bingo acaba, a festa acaba também, ficam poucos ao som de bandas ao vivo. Lá se vão: seu João, cheinho de cachaça, empurrando a cadeira do amigo. Muita gente na rua voltando da festa. Seu João, num descuido alcoólico, assustou os presentes, se rebolou por cima da cadeira e do amigo, provocando um verdadeiro incidente: todos ao chão.
Pode-se imaginar seu desespero recolhendo o amigo do chão. Por muito esforço e ajuda de outros, recolocou o amigo em sua cadeira e o trajeto continuou. Em casa, agora, com uma amizade muito fortalecida, os dois, certamente, aguardarão outra festa.