Flechas na mente - BVIW

Tema: Memória afetiva (crônica)

Título: Flechas na mente - BVIW

 

Muitas coisas grudaram na minha memória, e são os detalhes que fazem meu coração doer, de saudades, de dor ou de alegria. Passei minha adolescência na pequena cidade de Luz e ia com frequência nos fins de semana para casa dos meus avós maternos. De lá, as tardes tinham cheiro de café torrado, enquanto às 18 h o "Leão" colocava a música Ave Maria, de Augusto Calheiros, para tocar no potente alto-falante. A cidade inteira escutava. Um pouquinho antes disso, vovô chegava da fazenda e tinha o "cheirinho de curral", que eu adorava sentir dele quando o abraçava. Minha avó, a quem chamávamos Didinha, era brava, mas sentia que gostava muito de mim. Sentávamos na varanda para ver a cidade passar diante de nós e para rezar o Angelus, tendo as rosas do jardim por confidentes.

 

Outra memória que marcou hora na minha emoção, foi a passagem da Naná, que foi companheira da minha mãe por 50 anos, a quem considerávamos nossa segunda mãe. Eram 18 horas quanto cheguei do trabalho em Santo Antônio do Monte e guardava o carro na garagem. Tocava a Ave-Maria. Uma hora depois, Naná saía na maca da ambulância. Impossível esquecer do seu braço dependurado e eu entendi que ela não voltaria pra casa.

 

Bom mesmo foi receber meus filhos no colo, depois que nasceram… Saulo pesou quase 4 kg e parecia um morango, de tão coradinho! Mari também foi um bebê grande, 3,600 kg, e veio do banho com uma fitinha nos cabelos pretos. Parecia uma boneca! Ambos cheiravam a filhos meus. O dr. Mário Lima foi quem fez o parto dos dois e não me esqueço do seu rosto bonito e risonho ao visitar sua paciente com suas crias, com diferença de 5 anos entre Saulo e Mariana. Ele sugeriu o nome de Jáder, para Saulo, e eu lhe disse que achava não ficar bem, pois meu chefe no INSS em Divinópolis se chamava Jáder. Não queria que a comunidade previdenciária pensasse que era bajulação (risos).

 

São tantas memórias do coração que dariam um livro… essas são como flechas na mente, que perpassando os sentidos, explodem em doces emoções.

 

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 27/09/2022
Reeditado em 27/09/2022
Código do texto: T7615435
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