Minha avó materna se chamava Aracy, era professora Primária, tinha a pele alva e acetinada, e era muito feminina. Meu avô Juquita, advogado, jornalista, gostava sempre de andar de terno e gravata e lembro daquele cheirinho de brilhantina no seu cabelo. Eu sempre via os dois como um casal perfeito e eram o símbolo do amor.
Existe uma lembrança que ficou para sempre marcada na minha memória afetiva. Eu a chamava de "a prova de amor do nesquinha". Depois dos almoços na casa da minha avó , família grande, todos na mesa conversando e meu avô se levantava para preparar seu nescafé.
- "Ele nunca se esquece de deixar o finzinho para mim." - minha avó me confidenciava. Assim, tornei-me sua cúmplice! Ficava observando meu avô preparando seu café, e vindo para a mesa, conversando, gesticulando, contava histórias, ria, dava seus golinhos no café e dentro de mim crescia uma ansiedade. De repente ele estendia a xícara para ela, e minha avó me olhava vitoriosa, com um meio-sorriso.
Nunca esqueço daquele seu olhar acompanhando os movimentos de meu avô com seus olhinhos miúdos, doces, carentes e pedintes - era como uma cena de filme dirigida pelo Clint Eastwood.
E ela, feliz e sentindo-se amada, com alto nivel de oxitocina, tomava lentamente aquele último golinho de amor.