Minha avó materna se chamava Aracy, era professora Primária, tinha a pele alva e acetinada, e era muito feminina. Meu avô Juquita, advogado, jornalista, gostava sempre de andar de terno e gravata e lembro daquele cheirinho de brilhantina no seu cabelo. Eu sempre via  os dois como um casal perfeito e eram o símbolo do amor.
Existe uma lembrança que ficou para sempre marcada na minha memória afetiva.  Eu a chamava de  "a prova de amor do nesquinha". Depois dos almoços na casa da minha avó , família grande, todos na mesa conversando e meu avô se levantava para preparar seu nescafé. 
- "Ele nunca se esquece de deixar o finzinho para mim."  - minha avó me confidenciava.  Assim, tornei-me sua cúmplice!  Ficava  observando meu avô preparando seu café, e vindo para a mesa, conversando, gesticulando,  contava histórias, ria, dava seus golinhos no café  e  dentro de mim crescia uma ansiedade. De repente ele estendia a xícara para ela, e minha avó  me olhava vitoriosa, com um meio-sorriso.
Nunca esqueço daquele seu olhar acompanhando os movimentos de meu avô com seus olhinhos miúdos,  doces, carentes e pedintes -  era como uma cena de filme dirigida pelo Clint Eastwood.   

E ela,  feliz e sentindo-se amada, com alto nivel de oxitocina, tomava lentamente aquele último golinho de amor.  

 

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Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 27/09/2022
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