Dezembros - (BVIW)
Gosto de contemplar o nada e deixar a mente divagar livre, percorrendo seus caminhos pelo Tempo.
Hoje, aos poucos insinuou-se, ondulante e suave, a recordação dos dezembros passados. Regresso à infância.
Sou uma menina alegre, a ajudar o pai na montagem do tradicional presépio. Sobre um grande tabuleiro, serragem natural e tingida de verde, compõem o solo. Sobre ela, espalhados com cuidado, animais, pastores, espelhos fazendo às vezes de lagos. Acrescenta-se uma figura nova a cada ano. Sobre uma elevação, a Sagrada Família se acomoda na Manjedoura. Bem ao longe, os Reis Magos, que a cada dia serão mudados um pouco de posição até que, no Dia de Reis, cheguem para sua visita ao Menino Jesus.
Ouço ruídos na cozinha e corro para lá. É mamãe que começa a preparar os tradicionais doces natalinos de origem calabresa, os “turdilli”. Ajuda de criança é pouca, mas quem não aceita é louco, dizia um ditado popular. E lá vou eu...
Passam-se as horas e emana da cozinha o perfume do mel aquecido, onde estão sendo mergulhados os “turdilli”.
Velha que sou, entendo o privilégio de ter tantas boas lembranças a me visitar...
Lu Narbot
Tema: Memória Afetiva - Crônica