Das Minhas Lembranças 41
Prometi no capítulo anterior que reproduziria os conteúdos do Intercâmbio número zero. Aí eu me lembrei de minha participação no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, que se não me falha a memória, foi em 2001. Fui participar de um seminário da Central de Movimento Popular-CMP. Havia representantes do movimento popular de todas as partes do Brasil, como MST, MTST, movimento de luta por moradia, da saúde, meio ambiente e outros. Eu me lembro do representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto-MTST fazer uma intervenção, que me deixou impressionado pela capacidade de argumentação. Era um militante jovem, que defendeu sua tese de forma bem articulada. Não me lembro quem era, mas tenho quase certeza que era o Boulos.
A Democracia permite o encontro da diversidade. O Fórum Social Mundial, cujo slogan era Um Outro Mundo é Possível, tinha oficinas, conferências e seminários temáticos. Tinha palestrantes, como Noam Chomsky e Frei Beto, entre outras e outros intelectuais e artistas do Brasil e do mundo. Além do seminário da CMP, ouvi a palestra de Frei Beto, que foi quem pensou a criação da CMP, uma espécie de CUT do movimento popular. Mas quero contar são alguns acontecimentos que não têm registro. Sobre o Fórum, basta uma busca no Google.
Foi a primeira vez que fui a Porto Alegre. Foi em janeiro, ou fevereiro. Cuidei de me prevenir, levando uma jaqueta jeans, por causa do frio. A jaqueta tornou-se um estorvo. Não cabia na mochila. Fazia um calor de uns quarenta graus. Só então fiquei sabendo que lá tem as quatro estações. No inverno faz um frio de lascar; no verão um calor arretado. Ao chegarmos, não tinha hotel, nem pousada, tudo lotado. O Zé Geraldo, companheiro de viagens e dirigente da CMP não tinha feito uma reserva. Ele ligou pra alguém, que instruiu irmos para o município de Esteio, na região metropolitana. Que situação! Pegamos o trem na estação do metrô e rumamos para lá. O local da hospedagem era o parque de exposição agropecuária. E de novo, não tinha alojamento. Passamos parte da noite, cansados, juntos com vários companheiros e companheiras, numa imensa área coberta. Nessa hora a jaqueta me serviu de travesseiro. Estávamos cansados de dar pernadas. O calor produziu um odor, queria entrar debaixo de uma ducha. Pernilongo! O inseto fazia acrobacia e cantava em meus ouvidos. Não conseguia tirar uma soneca. Passado umas horas, o Zé Geraldo me chama. Conseguira espaço num alojamento. Os pernilongos atrás. Tinha uns colchões no chão. Depois do banho, fomos dormir. O Zé, virado de costas, roncava como um... deixa pra lá. Não ligava pros pernilongos sugando seu sangue pelas costas. Pernilongos sempre me tiraram o sono. Por mais cansado que esteja, não consigo. Principalmente pelo zumbido nos ouvidos. Caramba, o que fazer? Um companheiro de Belém me ofereceu um repelente feito a base de ervas do Pará. Ele, como tantas e tantos, vendiam produtos trazidos de suas terras. Principalmente artesanatos.
Terminado as atividades do fórum, retornei num ônibus do Sindicato dos Metalúrgicos de BH, Contagem e região. O Zé voltou de avião. Foram vinte e nove horas de viagem. O ônibus era confortável e me permitiu dormir praticamente o tempo todo.
No próximo capítulo cumpro a promessa do capítulo anterior.