PERIPÉCIAS DE UM ANCIÃO EM LISBOA
Durval Carvalhal
Interessante! Quando crianças, queremos logo ser adultos; quando adultos, queremos viver longamente até ancianado; quando anciões, buscamos a criança que fomos; são as duas pontas da vida de que nos fala, Machado de Assis.
Lisboa, Portugal, é uma cidade bonita, com cara de jovem, alegre, dinâmica, cultural e de muitos e belos pontos turísticos; um deles é o “Padrão do Descobrimento” , com exposição no sub-solo e visão panorâmica de onde partiram os navios que desbravaram o mundo, achando o Brasil.
Após a visita, fiquei a perambular ao redor da instituição e curtir as gentes que passeavam quando, de repente, uma garotinha de uns quatro anos corria chorando atrás de um “planfetinho” que o vento forte lhe roubara das mãos. Quando percebeu que não mais alcançaria o papel voador, o choro foi copioso, o que me tocou profundamente, já que não gosto de ver criança sofrendo. Triste, fui olhar o papelzinho no mar, separado da terra firme por um muro vertical de uns 5 metros.
Qual foi minha surpresa ao ver o panfletinho preso ao muro pressionado pelo vento; incontinente, deitei-me no lancil ou borda do passeio; não foi possível alcançar o ouro da menininha; esforcei-me mais ainda, o que me custou as lentes dos óculos que estavam pendurados na camisa; e com os dedos indicador e médio da mão esquerda, fiz o gol da vitória.
Levantei-me vitorioso e vi aquele pedacinho de gente me fitando incrédulo; cheguei a ouvir sua mamãe pedindo: !Agradeça ao rapaz! Agradeeça ao rapaz! “.
Que belo presente! Fui promovido de ancião para rapaz; e quanto às lentes perdidas, não foi nada diante do resgate da alegria de uma terna menininha.
França, 08 de setembro de 2022
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