CADÊ MINHA FORÇA?
CADÊ MINHA FORÇA?
Adílio dos Santos – 21.09.2022 – 19h00
Vagarosamente, transito pelas calçadas paulistanas. Ainda à distância vejo nelas corpos estendidos. Roupas espalhadas, cães ao redor. A esta altura já havia tomado minha refeição do meio dia, e, ao trabalho retornava. Naquele dia, logico, numa quarta-feira de temperatura amena, foi fácil ter decidido por uma bem suculenta feijoada. Corpo pesado, mas, feliz porque retomaria o segundo período de minha jornada trabalhista. Trabalho que além de me garantir sustento meu e da família, aprazia muito em executá-lo. Agora, sem se sequer notar, caminhava muito próximo dos corpos vivos, ou semivivos que tomavam o passeio. E eles não se olhavam. Não tínhamos intimidades para isso. Repentinamente um corpo se mexe sob trapos. Expõe a cabeça. Rosto magro, incolor. Seus olhos se arregalavam em minha direção. Depois se desviavam. Nenhuma expressão. As lágrimas ficaram por minha conta, quando, diante daquela cena, nada eu podia fazer. Ou pelo menos não tinha forças para tal.