Outono
Felizmente bastava o olhar para se entenderem sem palavras. Quando a memória começou a falhar assustadoramente viu-se enredado em palavras que ou haviam perdido sentido ou já não significavam nada. Inventava-as para substituir as que perdera e gerava tremendas confusões em quem, por costume, tentasse desenredar um novelo de situações muito definidas e concretas mas sem mais nada além disso. O nome trocado, a terra imprecisa, não revelavam a quem pertencia a história.
Cabia-lhe ligar pontas soltas e muitas vezes chegava quase ao global não referido. – Não é esse o apelido nem seu nome era João. O problema é que também a ele chegava a idade e, com ela, as brancas que tomavam designações e deixavam em sopa de probabilidades letras soltas, algumas palavras, nomes que chegariam, para iluminar tudo. – Esse mesmo! Exultava depois de ver decifrados todos os enigmas. Precisamos de certezas, de memória, de esperança. Se vos faltarem esperem com calma e pensem noutra coisa. Às vezes, sem darmos por isso, nos vem, muito firme, o vocábulo em falta.