O BEIJA-FLOR
Toda manhã, aquele Beija-flor estava lá. Com suas lépidas asas adentrava meu jardim, quase sempre, em torno das sete horas da manhã.
Cortejava todas as flores uma a uma, repetindo seu voo sobre elas, por duas, três vezes.
Algo começou a chamar minha atenção. Todas as manhãs, após esses repetidos voos por sobre as flores, voltava sempre o seu olhar para a mesma flor, cortejando-a de forma mais apaixonada.
Mas, a manhã desta última Terça-feira, não foi como as manhãs anteriores. O Beija-Flor não apareceu. Imaginei que estivesse visitando outros jardins.
Ao abrir o portão, saindo para o trabalho, minha filha de 4 anos, que sempre ao lado de minha mulher, acompanha minha saída, exclamou:
- Papai! Olha o Beija-Flor!
E, para nossa tristeza, corpinho estendido na sargenta, lá estava o Beija-Flor, já sem vida. No rosto de minha filha, lágrimas desceram silenciosas.
Não havia melhor lugar do que aquele jardim para sepulta-lo. Após pegá-lo com cuidado, a pedido de minha filha, abri uma cova de mais ou menos um palmo de profundidade em nosso jardim, e o depositei ali, cobrindo-o com a terra macia. Assentei a terra com a palma da mão, E, em seguida, quebrei aquele galho com sua rosa preferida e finquei com cuidado na terra, para demarcar sua nova morada.
Após um beijo em minha filha, e em minha esposa, fui para o trabalho, onde vez ou outra lembrava daquele Beija-flor e nas lágrimas de minha filha.
À tarde, de volta para casa, após o trabalho, ao abrir o portão, ouvi de minha filha, que sempre me esperava com rostinho entre as cortinas daquela janela, a mais feliz das exclamações:
-Papai, o Beija-Flor ressuscitou!
E, um Beija-flor, com suas asas lépidas, sobre aquela rosa "plantada" naquela manhã, voou para outros jardins.
Ainda ouvindo os gritos de minha filha, pelo corredor da casa, "Mamãe, mamãe, o Beija-Flor ressuscitou!!!", exclamei, na mesma alegria, enquanto fechava o portão:
- Sim, filha! O Beija-Flor ressuscitou.