Hipermetropia Social - BVIW
Se tem um pais marcado pela desigualdade e ranhuras, o Brasil abre alas, pois a Carta Magna parece que foi escrita a lápis, e na calada da noite, entre um escândalo e operação lava-jato, as emendas são anexadas para reforçar o que já existe. São tantas distrações e corrupção na rede midiática que mal dá para a população processar o que está acontecendo. Neste sentido, o lema da bandeira brasileira faz jus aos mandos e desmandos dos governos, ordem e progresso na roubalheira. Uma antítese do que foi idealizado, o verde do desmatamento e amarelo do ouro saqueado. E a falta de políticas públicas para a distribuição de renda e geração de emprego não pesa na consciência dos governantes, mas no bolso e estômago do povo, com certeza. São tantas desigualdades e distorções sociais, e a invisibilidade é uma característica de um grupo que vive à margem ou fora da sociedade. O pedinte do restaurante, do metrô, da sinaleira, do mercado, da praia, da esquina e do raio que o parta, muitas vezes, não é notado, contudo, quando aborda alguém passa a ser um estorvo, algo indesejável, e os dejetos são descartáveis. É assim que a maioria de nós comporta-se diante dos sem nomes e sem rostos, uma cegueira seletiva. Um incômodo por estar de férias nas lindas praias da Bahia, no supermercado comprando o que precisa e os supérfluos, um alerta quando para-se o fusquinha ou a limusine nas sinaleiras, e até um certo grau de desprezo, por aquele que estuda na mesma instrução de ensino, mas que é bolsista ou cotista. Esse mundo paralelo é um divisor de águas, pois ninguém quer estar lá, muito menos pertencer, e a hipermetropia social só cura com a lupa da empatia.