Invisíveis ( BVIW)
Algumas leituras que fazemos, vão nos marcando ao longo da vida, não é ? Leitores vorazes saberão do que estou falando: daqueles textos que consomem ou impregnam a gente. Dentre os meus, estão os poemas " O bicho", de Manuel Bandeira e " Nós, latino-americanos", de Ferreira Gullar. Estes eu conheci entre a infância e a adolescência e não me largaram mais. Já na fase adulta, ainda recente, conheci o consumidor " Quarto de despejo - diário de uma favelada", da inspiradora Carolina Maria de Jesus.
Entre o bicho " na imundície do pátio" , " o mesmo trajeto de sanha e fome" e o aviso da mãe solo a seus filhos, de que " não tinha pão ", me percebo, solidarizo, indigno. Como compactuar com a invisibilidade das massas, transvestidas na sociedade como minorias? Eu, mulher, negra, mãe, da periferia, sei bem o que esses registros representam. Seguem cortantes, visibilizando os invisíveis.
E em alusão à ela, que todos os dias sentava no quintal e escrevia...Me visto de Carolina e, aqui estou, escrevendo.
20/09/22