Vamos tomar um cafezinho?
Existe convite mais simpático? Vai muito além de beber um gole da tradicional bebida, uma das mais consumidas no mundo inteiro. Não importa o lugar, não importa a hora, é convite difícil de recusar. Pode ser em casa, numa padaria, num boteco, no balcão de fórmica de um bar, numa mesa rústica de madeira com toalha bordada, o que vale é o convite. Pode-se tomar num copo americano, num copo de papel descartável, numa xicrinha de metal ou de porcelana e até numa caneca de brinde. Se puder, evite os copinhos descartáveis de plástico. Os especialistas recomendam não exagerar na quantidade. Doce, sem açúcar, forte ou fraco, o cafezinho não combina com formalidades, é costume popular, sem regras nem imposição de etiqueta. A preferência é o café coado na hora. Convite para um cafezinho é acolhimento, serve para iniciar ou fechar um negócio, para trocar ideias, é uma pausa para reflexão.
Na fazenda do meu avô, às crianças não era recomendado tomar café. Hoje, me parece que ainda permanecem algumas restrições. Quanto aos adultos, há controvérsias. Confesso que não me recordo qual a idade limite, se é que existe. Eu não gostava, até o momento em que se tornou um hábito: uma xícara média, após o almoço. Amacia o resto do dia. Nunca aprendi a tomar café quente, pelando. Esse era o costume do meu sogro. Ele tomava de uma golada e eu ficava assoprando, constrangido, ele olhava como se estivesse perguntando qual era a dificuldade, sem nunca ter sido impaciente por causa dessa minha maneira sossegada de aproveitar o sabor da bebida. Meu pai tomava café o dia todo, inclusive antes de dormir. E não se importava com companhia. A companhia era o cigarro — que pena!
Tomar um cafezinho junto com alguém é um bom pretexto para divagar sobre o clima, a falta de chuva, o frio e a política. Serve para quando o assunto vai embora ou faltam argumentos. O cafezinho cai bem depois das refeições, no meio da tarde; muitos não começam o dia de trabalho sem tomar um copo grande, puro, forte. Combina com pão e manteiga, misturado ao leite, cappuccino, quente, gelado, mas tem coisa melhor do que acompanhado de pão de queijo? Para muita gente, principalmente para o trabalhador que se levanta de madrugada, às vezes falta tudo: leite, chá, suco de laranja, pão, frutas, cereais, menos o café.
Convidar alguém para tomar um cafezinho indica boa vontade, abertura ao diálogo, aceitar discutir assuntos espinhosos. É sinônimo de atenção, de interesse e de respeito. Quem você chamaria para tomar um café? Será que os desafetos políticos ficariam de fora? Um concorrente nos negócios? Um adversário? Oferecer, e aceitar, um café era imprescindível na casa dos meus avós. Não me lembro de alguém que tenha recusado. Eram outros tempos. Tempos de gentilezas e aprendizado.