Os bares atualmente
Gosto de pensar que sou um dos poucos caras que ainda chamam "bar" de bar, e não de "pub". Não vejo nessa minha atitude, no entanto, nenhum anacronismo. Gosto de pensar, aliás, que essa simples ação é um modo de pertencimento e patriotismo linguístico.
Hoje é comum chamarem bar de "pub". É típico dos tempos contemporâneos. Os bares de agora estão cada dia menos bares e mais pubes: mesas acolchoadas, garçom de terno e gravata, ambiente refrigerado, portas giratórias, em alguns casos, segurança à porta, em muitos casos. Agora imagine um homem quando ama, do alto de todo seu desespero e incertezas, sentado em uma dessas cadeiras acolchoadas, ocupando uma parte desse espaço anedótico: é ou não é o animal mais idiota do mundo?
Ele procura ver a rua, mas não há rua que ver; apenas paredes e uma tevê tela plana 45 polegadas, entoando programação estrangeira. Vai em busca, então, de uma saída, mas onde estará a porta? Haverá porta? E cachorro triste na calçada, mesa de sinuca, gaiola de passarinho na parede, garçom de bermuda e havaianas? Onde estarão?
"Tudo está tão mudado", soliloquia o homem quando ama, percebendo tardiamente que está ficando, assim como os bares de antigamente, obsoleto.
Talvez seja a hora de chamar um Uber e ir para casa. Mas, diante de toda essa modernidade, nota que apenas uma coisa não mudou: álcool continua sendo álcool, causando muitos estragos, principalmente morais. E o homem quando ama está muito alcoolizado, e de quebra, apaixonado, o que o faz entoar para si uma ressalva ao efeito danoso do álcool: "O bom dele, o bom dele, é que ele apaga. A gente vive até certo grau, depois a gente não lembra e acorda segunda-feira, às 8h, teoricamente prontos para trabalhar, achando que ainda é sexta, e a vida segue prontamente infeliz."
"Tudo está tão mudado", repete para si o homem quando ama, ao recordar que esses dias esteve hospedado em um hotel cujas janelas davam para outras janelas. "Tudo está tão mudado", enfatiza, desta vez para as paredes que o cercam, o homem quando ama. Daí para a frente, resta-lhe ficar ainda mais demasiadamente tristinho. Logo ele, que queria morrer inocente.