Fome e insegurança alimentar. Mudanças Climáticas. Racismo. Genocidio.
O mundo, mundo imundo, coitado do Raimundo, está de pernas para o ar, de ponta-cabeça.
Perdoe-me o leitor a desgraciosa brincadeira com os "undos", e atente para o que eu direi nas próximas linhas.
Ouvi dizer por aí que há no Brasil uns trinta milhões de brasileiros flagelados pela fome; quero dizer, pela insegurança alimentar. Não se diz, hoje em dia, pessoas a passarem fome, isto é, pessoas sem ter o que comer seja em um dia, ou em dois dias, ou mais. No Brasil, mendigos inclusive, todo brasileiro pode comprar, todo dia, um prato feito, e bem feito, mais substancioso do que a refeição dos ricaços adeptos de dietas amalucadas. Fome, portanto, no Brasil, é esporádica. No entanto, todavia, entretanto, com o objetivo de ao mundo venderem uma idéia errada da nossa pátria, aos quatro ventos espalham uma informação: há no Brasil trinta milhões de pessoas com insegurança alimentar. E o que os distintos estudiosos, especialistas, que dizem o que as pesquisas indicam, querem dizer com "insegurança alimentar"? Não sei. Não sei qual é o conceito de "insegurança alimentar". Não podendo, então, explicar o que é tal coisa, dela eu dou, nas linhas que se seguem a este parágrafo, em um parágrafo, um exemplo de "insegurança alimentar, contando uma historinha bem legal.
João, amigo meu, um balofo daqueles elefantinos, dono de uma pança e de uma busanfa homéricas, de fazer inveja a Gargântua, é um comilão de primeira. Todo santo dia, come o distinto homo sapiens, quatro quilos de picanha, ao almoço, e mais o que lhe põem no prato; e na janta repete tal refeição; e à noite, antes de dormir, envia para dentro de seu pantagruélico estômago uma pizza daquelas bem generosamente fornidas. E está sempre feliz - sua felicidade é imensa, diretamente proporcional às dimensões de seu hipopotâmico corpanzil. Hoje, no entanto, achei-o desenxabido, e falei-lhe a respeito, e ele me disse, entristecido, visivelmente preocupado: "Serginho, estou sofrendo de insegurança alimentar." "O quê?", perguntei-lhe, de imediato, sinceramente preocupado. "É verdade, Serginho, é verdade. A insegurança alimentar me abate. Não sei se, nas próximas duas semanas, até o final deste mês de setembro, eu terei grana para comprar, todo dia, a pizza a que tenho direito de comer toda noite. Não sei. E agora, Serginho, o que será de mim?! Entrarei em depressão, e depressão profunda. Não saberei viver sem a pizza diária. Eu nunca imaginei que um dia eu viveria, porque escasso o meu dinheiro, situação de insegurança alimentar."
Aí está, querido e paciente leitor, no parágrafo acima, um exemplo, e um exemplo exemplar, de "insegurança alimentar".
Agora, direi, antes de principiar o início do fim desta jocoséria crônica, algumas palavrinhas acerca de um outro assunto, que mexe com as emoções dos homens (e das mulheres também, não as excluirei da história - se eu o fizesse, chamar-me-iam machista e misógeno): as mudanças climáticas. Já deve ter percebido o leitor que quase não mais se fala em aquecimento global. A moda agora é falar em mudanças climáticas. E dá-lhe mudanças climáticas para explicar todas as catástrofes ambientais, o ser humano sempre apontado como o culpado da desgraça. Agora, sabe-se, que o excesso de chuva é culpa das mudanças climáticas - e a escassez de chuva também; e que o calor é culpa das mudanças climáticas - e o frio também; e que o grande número de furacões, tufões e ciclones é culpa das mudanças climáticas - e o pequeno número também. Enfim, debita-se toda tragédia climática às mudanças climáticas e culpa-se por elas o homo sapiens, bode expiatório para tudo o que ocorre de mal no mundo.
Vamos, para o terceiro tema, que esta no título, desta crônica: o racismo. É hoje o racismo um tema deveras sério, e os homens que dele tratam, tão sérios! tão sisudos! que já o encontraram até na matemática. Sim! Descobriu-se que a aritmética, a geometria e a álgebra são racistas. Quem podia imaginar! E que até a astronomia é racista. E até a física, e até a química. Dia destes, veja você, querido leitor, contaram-me que o covid é racista. E racista é também o vírus da AIDS. Quem diria!? A raiz quadrada e o Pi são racistas, você sabia, querido leitor?
Agora, sim, encaminho-me para o encerramento desta crônica, que não é extensa, nem curta. E aqui, para dar-lhe fim, digo: o coronavírus que há uns dois anos está a ceifar a vida de milhões de pessoas mundo afora, despachou desta para a melhor, em torno de 0,3% da população do Brasil, da dos Estados Unidos, da população da Alemanha, da da da Itália, da França, da Argentina, da Espanha, e da de Portugal e da do Reino Unido, mas só um destes países, dizem, tem um governante genocida. Você sabe, meu leitor, que se dispôs - que ato heróico! - a ler-me até aqui, de que país estão falando?