A Jaburanga

A Jaburanga

Posso dizer que tenho muita sorte e as coisas vêm acontecendo na minha vida de forma inesperada. Comprei por acaso, um sitio. Nunca me imaginei trabalhando com enxadas, enxadões, foice e rastelo. Acho que é a última coisa que qualquer mortal deseja. Exige muito esforço, muita dedicação, é um serviço muito pesado, mas ao mesmo tempo muito agradável. Ouvir o canto dos pássaros, o mugido dos bois, o cantar das galinhas, respirar o ar puro, limpar o galinheiro e sair todo cagado! Não tem preço. Faço isso todos os dias. Nosso sitio fica distante seis quilômetros da cidade, é preciso ir de carro. Estrada de chão muitas vezes intransitável principalmente em época de chuva.

Para atender essa nova demanda, comprei uma Belina II-83 a álcool que virou minha paixão. “Jaburanga” é o nome dela. Tem me ajudado muito, posso dizer que é um burro de carga, pois já carreguei muitas coisas nela. Mas ao mesmo tempo tem me tirado o sono. É como se fosse um animal de estimação. Não quero vê-la sofrendo, se ela apresentar um barulho diferente dos inúmeros que tem, já fico preocupado. Tenho gastado os tubos nela. Troquei a caixa de câmbio, o carburador, fechadura da porta traseira, os quatro pneus, os embuchamentos da suspensão dianteira, fiz o motor, transformei seu motor a álcool em gasolina, as pastilhas de freio foram trocadas, o cilindro mestre do freio, soldei todos os rachados e furos que tinha no fundo, e tantos outros consertos que já perdi a conta. Mesmo depois de tudo isso, ainda continua fazendo barulhos estranhos, e olha que eu sou surdo, uso prótese auditiva. Imagina! Para vocês terem uma ideia da minha luta, ela representa tudo para mim, em termos de trabalho e de lazer, amo minha “Jaburanga”, acho até que se aparecesse o cara aquele do nariz grande que fazia reformas em carros velhos, no quadro “Lata velha” não aceitaria, tamanho é o carinho que tenho por ela do jeito que ela está!

O tempo vai passando, as coisas vão mudando, já pensei em trocar por outro carro mais novo, mas fico relutando, não acho jeito e ela vai ficando, me levando e me trazendo do sítio, não sei até quando!