Por que queimar árvores?
Há poetas que desejariam ser uma árvore. E assim sendo, já árvores, não se comparariam às outras, invejando alturas, profundezas das raízes, seus estirados galhos, belas folhas e lindos frutos. Gozariam, como as árvores o fazem, a simplicidade da natureza, tal qual a ideia do vate chileno Pablo Neruda, em Oda al hombre sencillo. Tampouco, como diz o poeta polonês Milosz, elas chegariam a crescer, entre tantas altas árvores, sem ferir alguém, para, injustamente, sofrerem a maldade de serem golpeadas e queimadas.
Infelizmente os humanos não são, nesse sentido, árvores. Matam-se entre si ou vivem, com ódio, pretendendo a morte dos outros. As árvores ferem ninguém, ao contrário, deixam suas sementes formarem, na floresta, unidos grupos, como se fossem sociedades ou famílias, nas quatro estações do ano, também solidárias entre si, seja nas tempestades, nas secas, nos terremotos, inundações ou tsunamis da vida. Até os druidas, independentes de crença, sentem a inspiração divina, compreendendo em cada árvore um sagrado. E nessa compreensão aprendiam amor e sabedoria, promessas consequentes do druidismo.
É possível acreditar que exista alguém que não goste de árvore? Nessa humanidade tudo é possível... Para não praticar o verbo “acreditar”, basta rever os filmes e vídeos denunciantes dos que desferem “broncas” machadadas contra as árvores da floresta virgem ou lançam sobre elas chamas incendiárias, tão somente com o intuito financeiro de ganhar dinheiro, evocando a justificativa de não haver pão na mesa dos que têm fome. Contudo, vendidas as exportações, até jogando no mar a produção em excedência, os incendiários lucram e o povo continua, aos milhões, a passar fome.
Advertidos nós, brasileiros, sobre as incessantes queimadas nas inúmeras matas, elas são medidas aos tamanhos de milhares de “campo de futebol”, sem traves, cobertos de brasas e cinzas, sobre o que provém a boca insensata: “Em outros países, acontece o mesmo”. Os druidas veneram o carvalho, e nós deveríamos ter especial veneração ao Pau-Brasil, além de outras razões, árvore de onde se originou o nome do nosso país. Quanto a esse dever para com a natureza, pratique-se a doutrina druídica. O que é bom sempre é imitável.
Há almas generosas que merecem longevidade porque cuidam das árvores. Todas as noites, regam as plantas, defendendo-as, às vezes, com grades de madeira. Não precisa praticar a dendrolatria, para nossa sobrevivência, é suficiente deixar que as árvores sobrevivam. Por analogia, as árvores do conhecimento e as genealógicas terão vida, se e somente se as árvores das nossas praças, jardins ou quintais, em simbiose de raízes, como fazem os coqueiros, também com as das matas e das florestas, multipliquem suas vidas. Não deitadas ao solo, mas em pé, vivas, apontando para os céus. Desde que seja tarde, como nos alerta o poeta Olavo Bilac, em Poesias, em possíveis fatalidades, por consciências tardias: “Gemem os bardos. Triste, o olhar por céus em fora/ Uma druidisa alonga, e os astros mira, e chora”... As árvores também resistem, elas não tombam ao primeiro golpe, seria como que implorassem, na visão do nosso poeta Augusto dos Anjos: Deixem que eu viva...