Um olhar solitário BVIW

"Olha o queijinho! Tatuagem de henna quem quer? Milho verde fresquinho! " Estou na praia. Sozinha. Fiz um trato comigo: caminhar, sentar em uma barraca de praia sem celular e nada que me distraia, só observando. Não tive a iniciativa de conversar com ninguém. Não fiz voto de silêncio. Conversei com quem iniciava algum assunto e foram muitos. Fui simpática e receptiva. Alguns fizeram perguntas pessoais que eu respondi com evasivas. Muitos foram simpáticos, recebi convites para dividir taxis e passeios. As pessoas sentem-se incomodados com a solidão ou eu que sinto que as pessoas se sentem incomodadas com a solidão?

O porteiro do hotel recomendou: não ande à noite sozinha, se sair, use taxi e me deu um número de confiança do hotel. A criança da mesa do lado brinca com areia. Chega perto sorrindo e me oferece seu baldinho. Acho que é para brincar. Nem ela suporta me ver sem companhia . Vejo cenas interessantes: casais brigando por pouco motivo, duas crianças brincando e quando a mãe chega perto uma delas chora alto dizendo que o irmão não quer dar a pazinha. Amor manipulado. A maconha é oferecida nas mesas. Menos na minha. Sou sozinha ou respeitável demais? O vendedor de camarão no espeto passa várias vezes com o tabuleiro apoiado no ombro. Desde quando este camarão está no tabuleiro passeando no sol pela praia à espera para ser consumido? A rede é vendida por vários preços, depende do interesse do freguês. Poucos vendedores param na minha mesa. Não perdem tempo com uma pessoa só.

O mar é o mesmo, segue seu ritmo de marés, indiferente às selfies, barcos, caiaques, jet-skis, bolas, baldinho, mesas, cadeiras. comida. Todos fazendo alguma coisa. É preciso tirar fotos, beber, comer, comprar, conversar... Gente sendo gente.

Márcia Cris Almeida

12/09/2022