Quando quis fazer um serviço voluntário, não pensei em crianças, mas em velhos. Crianças sempre encantam a platéia, mas os velhos, ah! os velhos. Eles sempre são aqueles carentes que mendigam atenção.
Minha família achou que eu ficaria deprimida, que não era um serviço fácil. Mas, muito pelo contrário, aquilo me deixava imensamente feliz. O trabalho consistia em ajudar na distribuicao do almoço, mover as cadeiras de rodas e interagir socialmente com os pacientes, abrandando a dureza do final de vida.
O Mike tocava no seu violão musicas dos Beatles. Bill, o cego, sempre olhava para fora mesmo sem enxergar, e sorria, admirando a neve que nao via. Ali, tão vivamente, estava estampada uma historia de vida. Podia ver nas paredes as fotos antigas e fazer um avanço rápido na figura dos rostos de antes e de agora. Era como um filme daqueles que pegamos o controle remoto e brincamos para frente e para tras, fazendo a retrospectiva.
Havia uma propaganda antiga no Brasil que me emocionava muito. Aparecia o pai com o filho pequeno e ele dizia: “Come meu filho!”. E o menino fechava a boca nao querendo comer. Mais tarde, aparece o pai velho, e o filho: “Come pai!” e o pai agia do mesmo modo, fechando a boca.
E isso me faz pensar: o que é o retrato da vida senão um maravilhoso reciclar?