Adeus fantasia de orador
NUNCA fui político militante em tempo integral, mas participei de algumas campanhas. Uma delas foi a de Arraes em 1986 (Arraes vai voltar pela porta que saiu). Fui um dos coordenadores da campanha dele em Pesqueira. No dia do comício dele na Baixa de São Sebastião, o maior comício da história política de Pesqueira, me preparei para fazer um discurso porreta, até decorei o texto. A vaidade me impediu de não enxergar o óbvio: sou rouco e falo muito baixo, até operei uma corda vocal. Dei até um jeitinho para falar antes de Arraes. Levei inclusive minha filha caçula para o palanque, falei segurando a mão dela. Fui muito aplaudido, era figura popular na terra. Alegre desci do palanque com a menina e fui conferir a repercussão do meu discurso. A primeira pessoa que encontrei detrás do palanque foi uma Índia velha minha conhecida pitando seu inseparável cachimbo. Quando indaguei dela o que achará do meu discurso, ela deu uma cuspidela no chão chão e mandou ver: “Uila (meu nome é William mas o povo pronuncia Uila), você, Migué Araizi e padim frei Damião, nóis num cumpriendi nadinha do que dizi maisi gosta “. Desisti de fazer a pesquisa, a Índia velha rasgou minha fantasia de orador. Inté.