Das Minhas Lembranças 39
Tentarei fazer um resumo do que pretendo ser o último capítulo de minha participação como conselheiro do meio ambiente no COMAC (Conselho de Defesa do Meio Ambiente de Contagem). Os fatos aqui narrados são fragmentos e não seguem, portanto, ordem cronológica.
No bairro Nova Contagem não havia rede de esgoto, na época em que fui conselheiro. Uma das causas era a falta de interesse das autoridades. Esgoto é uma obra que fica escondida debaixo da terra. Não dava votos. Talvez ainda não. Muitos políticos gostam mesmo é de obras com visibilidade, como asfalto, túneis e viadutos. Havia uma empresa que fazia a limpeza (e loby) com sua frota de caminhões limpa-fossas. Imaginem o quanto esta empresa ganhava com a falta de esgoto e quanto de prejuízo causava ao meio ambiente.
Numa ocasião visitei uma área de nascente, que um empreendedor queria drenar, para construir uma obra, próxima ao lago da mata do Confisco, que causaria um impacto negativo, atingindo, inclusive, a bacia da Pampulha. Convidamos a Loló, não me lembro se ela atuava no Consórcio da Pampulha ou na associação do bairro Bandeirantes, que se localiza nas proximidades da lagoa da Pampulha, para, juntos, denunciarmos e barrarmos esse empreendimento. Levamos a pauta à TV Globo Minas, que foi conosco ao local. Pactuamos que a Loló falaria à repórter, para que eu fosse preservado e assim evitar retaliações por parte de gente do governo de Contagem. A reportagem foi ao ar. Na reunião seguinte do conselho, percebi olhares de gente do governo como se quisessem dizer: " ah eu sei que foi você quem estava por traz dessa denúncia à imprensa". Só depois entendi: minha imagem fora flagrada pelo cinegrafista, quando eu apontava com o dedo, o local da nascente. Foi uma questão de segundos, o suficiente para me identificarem.
Em uma reunião do conselho o ambiente estava tenso, creio, por conta de uma pauta que poderia autorizar a instalação de um empreendimento, ao final aprovado por um voto de diferença. Se o conselheiro titular não tivesse faltado àquela reunião, haveria um empate e o secretário Juca Camargos teria de dar o voto minerva. Aí então ele teria de dizer de que lado estava. O conselheiro suplente votou com o secretário. Ficamos sem saber se foi armação ou coincidência. O conselheiro titular votaria por barrar o empreendimento.
Por último, lembro que antes da reunião do conselho, eu me reunia com as lideranças que me conduziram ao COMAC, para analisarmos e deliberarmos sobre a pauta, enfim, como eu deveria votar. Meu suplente era o Geraldo Ferreira Pinto, mais conhecido por Índio, morador do bairro Petrolândia, sempre presente, no movimento popular e em defesa do meio ambiente.