Sociologia do futebol brasileiro

Via de regra, é alvitre dos que se encarregam no auxílio ao cuidado da saúde: atividade física de modo genérico, ou a prática de qualquer esporte.

Saber precisamente a causa da preferência brasileira por futebol a outro, eis difícil missão, por maior que seja, e louvável, o empenho.

Inexplicável, talvez seria a conclusão otimizada, cômoda, sem muita busca, mormente a psicológica, ou a genética, para a resposta à pergunta transcontinental ante o apego do/a brasileiro/a pelo esporte que Charles Miller oficializou, trazendo as regras da Inglaterra, para a sua prática, nada obstante remontar, o futebol rudimentar, embrionário à China (?) e até mesmo aos maias…

No topo, o mais praticado e apreciado mundialmente, é consensual da paixão cativante que por ele nutrem os povos do globo terrestre.

Espetáculo (quase) sempre a esgotar ingressos de bilheteria; estádios lotados, apinhados de amantes do futebol.

Entretanto, nas terras brasileiras, o futebol do rei Pelé vai muito mais além do contexto de esporte bom de prática e de diversão social.

Assunto que se imiscui nas rodas e destaca-se como de interesse principal, ladeado a qualquer outro, político, religioso, científico etc.

Sem dúvida, adquire um significado que se amplia, identificando segmentos sociais, estes que se podem renomear torcedores.

Com alguma exceção, é então o futebol a alma deste povo multicolorido na epiderme. Do mais chão ao intelectual, os que compõem proporção de neutralidade são realmente poucos.

Há os que se limitam, e lhes basta a arquibancada quais torcedores amantíssimos do futebol, enquanto estes descem às quatro linhas para também arremessarem a gorduchinha em busca de um tento que o gol representa.

Gol, vocábulo monossílabo que encerra o desejo inconsciente das massas, dedução, que se acertada, acessa a área da psicologia social de um povo.

O futebol no Brasil é multifacetado, que se associa em aspectos do lazer, da educação, da economia, da politicartolagem, sob pés de barro do trabalho formal dos que o praticam.

Menina dos olhos e possibilidade à fama ou mudança de status, nenhum nível de classe econômica deixa de ter representantes, embora classes menos distantes do topo tenham maior proporção de pleiteantes, haja vista os expoentes do brilhantismo e "genialidade" representando esta modalidade esportiva, virem de estratificação socioeconômica deficitária.

Mas não é o tento, a conquista - pretensão de comuns mortais?

Na sociedade de contrastes acentuados predominando a insatisfação de realizações, de repente, a popularidade do esporte qual o futebol de acesso às massas, permitindo pé de igualdade (até de saberes acerca do futebol) e desfrute de visibilidade, eis um recurso de compensação, válvula de escape, aposta, confiança e fé na coparticipação dos lucros de felicidade, mesmo fugaz, representada no gol, que é tento e vitória.

Ser profissional de futebol na "pátria de chuteiras", em definitivo, não é o apenas compromisso de promover bom espetáculo, a quem lhe compre o bilhete com o fito de divertir-se, espairecer.

É antes se virar, romper com a realidade insofismável de que jogo admite invariavelmente resultados em probabilidade de vitória… ou derrota… ou ainda empate.

É estar rigorosamente em dia com a conta de analista, para desculpar-se e isentar-se da coautoria nas ocorrências opostas ao espírito de civilidade, aumentadas logo após, coincidentemente, da derrota sofrida dos invencíveis de que tem feito parte...

Do resultado bem sucedido, representado em vitória, o seu torcedor vai depender. Sim, vitória em parceria, que produza hormônios de prazer e contentamento; que resgate a autoestima, que lhe garanta visibilidade na segunda, ou dia seguinte ao jogo, na suscetibilidade de uma entrevista, ostentando a camisa vestida, encarnada do time queri(preferi)do!

Que maior tragédia possa lhe advir, à fiel torcida, ávida por bom êxito, que um gol, um golzinho apenas representa, e cujo fato abortado suste a catarse, o cântico da alegria, a explosão do grito rasgado, incontido de expessar "é campeão!?"

Se o maracanaço, de 1950, dista e possa ser descartado em protesto à evocação de velhice, museu, pessimismo, eis que o mineiraço (2014) triste, morto, renova a complexidade do esporte o mais popular e põe em dúvida o argumento da maturidade psicoemotiva dos amantes do futebol por aqui.