O FUNERAL DA ABELHINHA

 

Naquela manhã primaveril, aproximo-me da entrada do Quartel, meu local de trabalho. No portão, a atenta sentinela me saúda com uma obrigatória continência e um, não obrigatório, cumprimento: -Bom dia, e um bom trabalho para o senhor Tenente! – dissera!

 

Com uma continência, respondi a que me fora prestada e com sorrisos e fala agradeci: -Muito obrigado! Um bom dia e bom trabalho para você, também!

 

Dele me despedi e adentrei o recinto. Para chegar à minha sala, teria que passar por um florido jardim onde as belas Rosas recebiam – graça à beleza contagiante que possuem – as continências de todos, desde o Comandante, ao menos graduado.

 

Parei ante a mais bela, lhe acariciei as rosadas pétalas e inalei o suave e delicioso aroma emanado. Os meus olhos passeiam pelo fértil e bem cuidado solo onde vejo uma abelhinha caída. Ela, coitada, estava estrebuchando no estertor da morte. Dela se aproximavam ávidas e famintas formigas, querendo fazer o repasto matinal – o lanche da manhã, o café matinal!

 

Resoluto, saquei minha arma (Ops! Era um graveto.). Cuidadosamente, fui afastando as Formiguinhas, enquanto, com elas, me justificava:

-Não posso permitir que, dentro de um Quartel de Polícia, vocês cometam este hediondo Abelhacídio! – dissera-lhes... Entenderam-me... Se afastaram!

 

Abaixei-me – e com redobrado cuidado – peguei pelas asinhas a moribunda Abelhinha e a coloquei nas pétalas da linda Rosa. Não poderia deixar que ela, a laboriosa Abelhinha tivesse uma morte tão trágica, tendo o seu corpinho sendo devorado pelas famintas Formigas. Bem sei que interferi no ciclo vital da sábia natureza, onde uma simbiose linda e salutar se faz presente, onde a morte é – nada mais, nada menos – que uma necessidade de sobrevivência, uma luta pelo equilíbrio ecológico. Mata-se para sobreviver e não pelo mero prazer de matar, como faz o nefasto ser que se arvora dizer humano ser!

 

A Abelhinha – agora livre da trágica morte – estava feliz (Juro que senti a felicidade estampada naqueles inúmeros ocelos.), por estar partindo para os Jardins Celestiais onde, por certo, estará eternamente recolhendo néctares para o mel que adocicaria a boca do Supremo Criador.

 

O relógio me facultava o direito de, ali, ficar velando-a! Faltavam alguns minutos para o início dos meus trabalhos diários. Pacientemente, esperei os últimos suspiros da Abelhinha. Suas asinhas, aos poucos, vão perdendo os movimentos. Num lento ralentando, vão diminuindo... diminuindo até parar ao último suspiro da Abelhinha.

 

Pensando nas famintas Formiguinhas, quis entregar o corpo da Abelhinha, para que elas o devorassem.

Não posso fazer isso! – pensei!. Mas, fazer o quê? – indaguei aos meus botões!

Eles – meus confidentes botões – me mostraram a solução:

-Enterre o corpinho da Abelhinha sob o tronco da roseira. Elas, Abelhinha e Rosa, eram amigas de priscas eras e, por certo, vão se sentir felizes.

 

Agradecendo e aplaudindo os meus diletos botões/amigos, cavei o buraco e nele depositei o corpinho da Abelhinha, cobri-o com terra e com as pétalas, que se encontravam caídas ao solo e me despedi da laboriosa Abelhinha!

 

Com um sorriso nos lábios, me afasto do necrotério e adentro minha sala, o trabalho me espera! O dever a ser cumprido pedia a minha presença. É o ciclo da vida que segue no seu pachorrento nascer... viver... morrer!

 

IMAGEM: Google

 

 

Altamiro Fernandes da Cruz
Enviado por Altamiro Fernandes da Cruz em 11/09/2022
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