CAVALO DE POBRE
O patrão me passou de cavalo a burro. Imagina só. Depois de sete anos de serviço, cavalo-boi, pegando no pesado de sol a sol, sou chamado nas esporas.
Desempregado, montei agora num cavalo de batalha. Corro feito doido atrás de emprego. Procurei até um cavalo de santo para uma 'ajudazinha'. Sem dinheiro no bolso, já estou de andadura, a patroa enchendo as medidas:
-- Também você não faz por onde!?
-- Diacho! Mandei a mulher abrir o cavalo. Ingrata, preferiu dar a rédea de casa. Não aguento mais nos arreios...
Vendi a bicicleta. Ando no cavalo dos frades. Bati de porta em porta e só levei porta na cara. Dá muito trabalho arranjar trabalho!
Acho que vou tirar o cavalo da chuva. Não antes de adentrar num boteco e pedir (com rima e limão) uma dose cavalar da arrebenta-peito.
(*) Texto feito a partir do verbete cavalo, usando expressões ou palavras afins. O título sugere uma situação difícil, desesperadora, na qual se meteu um trabalhador.
Afonso de Castro Gonçalves
Membro fundador ABLAM, cadeira 02
Patrono: Millôr Fernandes.