CADÊ A QUALIDADE DA MÚSICA BRASILEIRA?
Não quero parecer aquele tiozinho chato que aparece com suas teorias ultrapassadas para desgosto dos mais jovens. Mas tenho certeza que mesmo entre estes, muita gente vai embarcar nesta pergunta junto comigo: o que fizeram com a música brasileira nas últimas décadas? Assassinato antecipado por requintes de tortura é o mínimo que se pode dizer.
Graças a Deus tenho bom gosto. Mas às vezes sou obrigado a escutar algumas coisas mesmo sem querer, quando estou em um espaço público. Meses atrás, estando na praça para coletar assinaturas do plebiscito popular, fui obrigado a ouvir do celular de um transeunte a ‘pérola” que repasso, vermelho de vergonha: “TACÁ NA X...! GOZÁ NA BOCA!” Sim, pelo jeito isso é considerado música por alguns! Não vou mencionar outras aberrações que pipocam nas redes sociais pra não ser chamado de retrógrado. Mas que saudades de um tempo em que se fazia música de verdade, com letras apaixonadas ou irreverentes, sem colocar a mulher como objeto sexual, defender a bebedeira ou celebrar a dor de corno! A impressão que eu tenho é que depois de desastres como É o Tchan!, Festa no Apê (que precisou de três ou quatro “compositores” para vir à luz e mesmo assim era uma versão) e Rebolation, a música brasileira despencou perau abaixo e não contamos mais com poetas como Renato Russo ou Raul Seixas – um cara que transitava por vários gêneros musicais, sabendo ser irreverente, romântico ou crítico social sem perder a qualidade – para nos salvar da mediocridade.
A própria música gaúcha, que no início se dizia avessa a estrangeirismos, hoje nos presenteia com pérolas pululantes como “Quero ver tu rebolá! Rebolá! Rebolá! Rebolá! Quero ver tu rebolá!” (e não vai muito além disso). Ou escrotices como “Era água de assento! Era água de assento! O que tinha na caneca! Mas que gostinho nojento! (Essa música narra as peripécias de um gaudério que vai num bailão – ou na zona, dependendo da interpretação – e sente sede. A moça – ou pinguanxa, dependendo da interpretação – traz uma caneca d’água, mas o gauchão descobre que é água que a mulher usou para lavar a “perseguida’. Posso estar errado. Mas humor é uma coisa, porquice e chinelagem é outra bem diferente). Nada contra quem aprecia Do Fundo da Xota (OPS! Grota!) e outros hits ‘gaudérios”, ou contra quem é adepto da atualização. Mas é possível ser xucro ou moderno sem abrir mão da sonoridade e da qualidade das letras. É possível falar de dor de corno sem perder a ternura. Ou elogiar a mulher como companheira, muito além de um mero objeto sexual. O problema é quando a própria mulher (ou futura mulher, quando se trata de uma adolescente) ajuda a propagar músicas cujas letras a denegrem ou menosprezam. E tome sentadinha e outras coisas esdrúxulas que até as crianças repetem sem saber o que significa realmente! Aí entraria o papel dos pais, que deveriam fiscalizar o que seus rebentos estão ouvindo, cantando e espalhando.
Existem os mais diversos tipos de drogas, que atingem o cérebro quando são inaladas, cheiradas ou injetadas na veia. O problema é quando outros tipos de drogas entram através dos nossos ouvidos por “músicas” cujo conteúdo – ou a falta dele – denigrem a mulher, banalizam algo tão sublime como o sexo ou incentivam a infidelidade conjugal e a violência de forma explícita.
Não se trata de moralismo. Mas sim de incentivar a qualidade do que estamos ouvindo e, principalmente, propagando.