Filho da Mãe!
A primeira vez que vi Helô eu tinha uns sete anos de idade, ela devia ter uns vinte e poucos. A mãe dela, que me pediu para lhe dar um recado, riu muito quando eu voltei dizendo que a Helô era "boazuda". A propósito, na adolescência eu sempre a "homenageava" no banheiro…
Uma das primeiras vezes que andei de carro a Helô era a motorista, mulher dirigindo era incomum naquela época, assim como ter amantes, e ela tinha alguns. Na verdade, Helô sempre esteve à frente do seu tempo. Ela não dependia do marido nem para defendê-la, até um revólver ela sacou no meio de uma briga…
Eu fazia pequenos serviços para Helô, ia à farmácia, ao mercado, ajudava com as bolsas quando ela ia ao centro de Nova Iguaçu. Inclusive foi numa ocasião dessas que ela me presenteou com um Comandos em Ação que eu queria muito mas minha mãe não podia comprar. Não sei por onde anda a Helô, mas sei que, felizmente ela está viva, diferente de outra mulher que foi muito importante para mim, minha tia Jô…
Tia Jô, era irmã do meu pai, tive mais convívio com ela do que com ele. Assim como a Helô, tia Jô era bonita, independente, inteligente, sagaz e ousada. Ela era amante do Aloísio, que tinha um Fusca azul e torcia para o America Football Club, sempre que possível ela me levava para passear com eles…
Aloísio me tratava como um filho, mas não era só por isso que eu queria que ele fosse meu pai, mas também porque eu era parecido com ele, Aloísio era preto e tinha um black Power…
Quando minha tia Jô parou de sair com o Aloísio, ela se envolveu com outro cara casado chamado Odair, mas continuou me levando para sair, eu ia aos restaurantes mais legais da região, e podia pedir o que eu quisesse…
Tia Jô era manicure, e passava o sábado inteiro fazendo unhas, bebendo umas cervejas e ouvindo o LP do cantor José Augusto repetidas vezes. Mas depois que o Odair, e também outro namorado dela chamado Luiz Carlos, foram assassinados (o Luiz Carlos na frente dela), ela passou a beber mais frequentemente, bebidas mais fortes…
Minha tia Jô estava embriagada quando foi atropelada por um ônibus, ela morreu dias depois no hospital. Sinto saudades dela, assim como sinto da minha mãe, o meu maior referencial de vida…
Tive a sorte de ter meu caráter moldado por mulheres incríveis como as que citei, e por outras tantas como as mães dos meus amigos de infância, minhas tias etc.