O PREÇO DE UMA BOA MEMÓRIA

Por outros tempos, uma década atrás, tive um ex-cunhado que, verdade seja dita, era um habilidoso marceneiro, com entalhes interessantes e sua marca em casas de gente exigente se fazia mostrar bem como seu preço cobrado a peso de ouro. Amigo íntimo de uns pileques, havia casos em que se dava ao luxo de recusar clientes por pura vaidade e pagava caro quando os trabalhos rareavam por se rebaixar a fazer valer seu nome com orçamentos medíocres a troco do sustento. Isso porque insistia em fazer a segunda-feira parecer domingo em semanas que uma vez curtas não fechavam diante dos gastos que reclamavam trabalho no primeiro dia delas.

Certa feita me chamou para ajuda-lo em um serviço na casa de um promotor de justiça, ele se empolgava com essa gente e até usava o nome deles nos botequins e portinhas de venda de aguardente não sem antes se encharcar à larga. Dai que ele me chamou para um serviço orçado em elevada quantia, num suntuoso apartamento, eu disse casa, mas me enganei, e promovendo a quebradeira para preparar o novo ambiente, fomos interrompidos para buscar material em uma madeireira na área central da capital. Rua Rio Grande do Sul Especificamente, Ah! O Bairro eu não lembro mais, mas era saindo para Nova Lima depois de passar pela Savassi, lá pra cima. Lugar de gente sem preocupações financeiras.

A coisa estava indo bem e o Nobre Marceneiro, o nome dele? Jaci, Pois é. O Jaci fez elevada compra com necessidade de ser lavada em um carro de praça pago, essas camionetas ai, tudo ajustado e faltava pagar e sair, quando ele pediu para usar o banheiro da Madeireira, e enfiou lá pra dentro, fez o que tinha que fazer e já voltando foi reconhecido pro um antigo funcionário, como sendo alguém que deixou uma conta antiga sem pagar. Este foi ao patrão lhe clareando a memória. Então tudo mudou. O patrão chamou o promotor e disse que cancelaria a compra por não vender para o Jaci e o promotor engrossou o caldo dizendo que a compara era dele, mas o dono do comércio bateu o pé e disse que dali não sairia nada para alguém que foi um dia embora de lá como caloteiro. Por longos minutos travaram acirrada discussão e o promotor tentou pegar mais leve e nada dissuadiu o dono da madeireira a vender pra ele que ficou aborrecido, contudo de pés e mãos atadas.

Próximo da hora de fechar o promotor ausentou-se para esfriar a cabeça quando voltou havia deixado seu carro dentro do estabelecimento e veio um funcionário pedir que o retirasse. Novo dissabor e ele não poupou o funcionário dizendo que aquele caro só sairia da li quando ele resolvesse. O impasse era acompanhado por mim e pelo Jaci que nada dizia sabendo, entretanto ser o causador do problema. Sem vontade de colaborar na retirada do seu veículo o promotor foi lá para esquina e quando voltou vou seu carro atravessado do lado de fora. O dono mandou uns dez funcionários arrastarem e ainda ficou atravessado e todos tinham caído fora com a loja fechada. Ele foi embora espumando e em quem pesasse estar sua casa toda bagunçada dispensou eu e u Jaci dois na hora e ainda aconselhou que ficássemos fora do seu caminho.

Pacomolina
Enviado por Pacomolina em 07/09/2022
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