Desassossego
Há sentimentos que nenhuma palavra, de qualquer idioma, é capaz de expressar.
Mas há um substantivo que, de forma despretenciosa e com apenas doze letras, consegue traduzir, fielmente, uma das sensações mais marcantes da vida adulta: DESASSOSSEGO.
Literalmente, o termo representa, pela presença do prefixo -DE, a ausência de sossego.
Mas, talvez pelo legado deixado por um dos heterônimos do grande Fernando Pessoa, ou simplesmente pela riqueza conotativa da Língua Portuguesa, desassossego seja a representação linguística mais exata para demonstrar a inquietude em que, por vezes e sem razão aparente, se encontra nossa alma.
E, sobre almas, quem de nós, de fato, é capaz de entender?
Em total inércia corporal, algo emerge dentro de nós, transborda nosso peito e sufoca a garganta.
Ainda que angustiados por essa inquietude, estamos plenos.
Afinal, só se entende o vazio quando se conhece o cheio.
Existir, talvez, seja, então, entender-se como um ser capaz de perceber-se em desassossego.
Não há como negar: a complexidade humana é, mesmo, fascinante.