Crônica de uma terça-feira (atrasada, mas saiu)
Caro leitor, sim, eu sei. Eu estou em dívida. Eu disse que tentaria escrever uma crônica em toda terça-feira. Pois bem, eu não o fiz. Por duas terças-feiras eu não consegui colocar qualquer palavra no papel. Aliás, em dia nenhum dessas duas semanas. Eu sei, sou uma fraude. Mas eu lembro de ter dito que a constância nunca foi minha maior virtude.
Enfim, eu sei que vacilei, admito. Nem eu sei dizer porque não escrevi. Porque eu tive muito o que dizer essas semanas, mas sem conseguir organizar a mente para escrever algo coerente. Então, vamos a hoje, caro leitor.
Eu estou exausta e tive um dia de merda.
Clichê, eu sei. E repetitivo. Visto que eu venho escrevendo muito a mesma coisa há meses. Mas sério. Eu estou só o pó. Numa situação triste, capenga, xôxa. Eu estou bem borocoxôzinha. Mas aí não é nenhuma novidade. Nem eu estar triste, raivosa, estressada e meu dia tenha sido terrível. Eu tenho dito problemas no trabalho, por ter me colocado em situações que eu não deveria estar passando. Ser uma mulher é um problema, porque você é invalidada e intimada por sua condição. Eu odeio isso. Eu me senti preterida. Uma pessoa insignificante quis se aparecer encima de mim, cantando de galo, num terreiro que só tem espaço para uma galinha: eu. Esse confronto me exauriu. Passei o dia molinha. Eu detesto brigar, mas a minha vida tem sido uma sucessão de batalhas atrás da outra.
Eu estou cansada de tudo isso. Cansada de viver a minha vida. Cansada de todo dia ter que acordar e me preparar para as desgraças que vão acontecer. Eu só queria um pouquinho de paz. É pedir muito?
Definitivamente eu preciso de alguém para ser eu. Só por um tempo. Pronto, é isso: eu preciso de um dublê – está passando a novela das sete e a premissa dela é essa, apesar de eu achar a novela péssima, mesmo com um elenco que adoro.
Dublês, se apresentem. Enviem seus currículos por e-mail. Eu estou contratando.
Alguém que acorde cedo, respire fundo e sai para encarar minha rotina sem esmorecer. Que encare os desafios, as coisas banais e não se canse tanto. Porque tem dias que travo. Um dublê de adulta, por favor. Que fique em meu lugar enquanto eu vou até ali na cozinha buscar um copo d’água e volto em um ano (ou dois).
Alguém que faça um cronograma e coloque as minhas leituras em dia, porque a minha lista de livros não para de crescer. Que volte aos estudos para conseguir algo melhor. Que dê conta de ver as notícias, olhar os twitters e checar os e-mails. Que pesquise um computador novo porque esse já está pedindo arrego. Um dublê educado, nerd e perfeccionista, para colocar toda essa bagunça em ordem. Enquanto isso, eu vou deitar no sofá e cochilar por uns três anos.
Alguém que seja sociável para ir aos rolês, conversar com os amigos e ser simpático ao sair na rua. Dublê, assuma a minha vida social e não se queixe. Poderia ser pior e eu te arranjar uma relação amorosa para lidar.
Alguém para brigar no meu lugar. Para impor minhas opiniões e defender meus argumentos. Um dublê que seja inteligente e honesto, que não abandone princípios. Enquanto você luta minhas batalhas, eu vou até ali beber uma garrafa de vinho e volto direto para casa, a pé.
Dublê, são tempos difíceis. Me ajude acalmar o aperto do peito, que não é infarto (e poderia ser, me faria um favor), é angústia de viver um dia nesse mundo cada vez mais caótico e louco. Talvez eu esteja ficando louca também. Por favor, dublê, me represente enquanto eu medito até o próximo sábado.
Faça caminhadas, beba água, se alimente melhor, arrume o guarda-roupa, doe uns livros, ouça podcasts, vá a terapia, não xingue as pessoas (nem mentalmente). Seja uma boa menina. Você não é multitarefa, dublê? Para ser dublê de mulher, precisa ser.
Dublê, socorroooooooooo.
Caro leitor, é urgente. Me indique um dublê para viver o resto dessa semana. Eu pago em dia!