O Sonho (A Felicidade)

7h30 da manhã. Acordaram cedo, tomaram banho juntos e se amaram apaixonadamente. Logo após, foram para o jardim dos fundos da casa e meditaram. Alcançaram a profunda paz e a leveza necessária para enfrentar o dia.

Era uma típica manhã paulistana. Aquele vento frio, o céu azul, o cheiro da grama úmida de orvalho, as azaleias em suaves tons rosados preservando gotículas do sereno e o canto dos pássaros como trilha sonora de mais um dia que se inicia.

Raios de sol passam pelos galhos das árvores que esculpem aquela faixa da calçada. Era possível ouvir os cães correndo no quintal, brincando e esperando o momento de entrarem em casa para pedir petiscos.

Os gatos estão preguiçosos, querem continuar em seus cobertores na caminha na sala. Tudo na perfeita ordem do caos cotidiano.

Era domingo, dia de café da manhã longo, daqueles que ocupam a mesa e a manhã inteira com o aroma de café impregnado na casa e o cheirinho de waffles e bolo de cenoura na cozinha. Tinha chocolate quente e tapioca com queijo e requeijão também. Era dia de colher um galho bem florido de azaleia pra decorar a mesa do café da manhã.

Enquanto conversam carinhosamente, era possível ouvir a TV da sala ligada transmitindo Shrek. Havia alguns bichinhos de pelúcia como guaxinim e leão marinho espalhados pela casa. A desordem de um lar tranquilo. Reuniram-se à mesa e comeram conversando sobre a rotina, fazendo planos, trocando carinhos e olhares.

Sobre a mesa havia um pequeno informativo de um pacote de viagem, o volume único de Irmãos Karamazov, o pad e um par de baquetas. Tudo fazia sentido.

O casal se abraça, ela repousa a cabeça no peito dele, sentindo as batidas de seu coração. Terminam o café da manhã e levam algumas malas para a garagem. Tudo pronto para passarem alguns dias na praia de Calhetas.

Ao organizar as malas no carro, ela se depara com aquele girassol que vigiou a semana inteira, aberto. Reluzente, floresceu iluminando aquela manhã.

A mulher retornou à casa para buscar um filhote vira-latas que veio todo faceiro no colo, balançando o rabinho. Nesse momento, ela vê seu homem saindo pela porta da sala com a fiel cópia dele nos braços, enrolada num cobertor macio, segurando um ursinho de pelúcia, com o rostinho sonolento aconchegado no colo do pai.

O vento soprou e a pacata rua foi ganhando vida naquela manhã de domingo. O sol iluminou o jardim e os cabelos ruivos daqueles dois. O pai ajustou delicadamente a cadeirinha no banco de trás, em seguida travou o cinto de segurança e segurou aquela mãozinha da cor da sua. A garotinha de três anos de idade possui os olhos castanho-escuros e o cabelo ruivo, tal como seu pai e é serena como a mãe.

Ele deu um beijo de boa viagem na testa da filha, que olhou com ternura e sorriu para ele com aqueles olhinhos sonolentos. Ele sorriu. Fechou a porta e, cavalheiro como é, abriu a porta para a esposa que segura o cãozinho feliz. Ele a beijou com paixão e ternura e antes que ela entrasse no carro, eles olharam para trás e viram tudo o que conquistaram.

Os negócios do casal, o estúdio, o escritório, as carreiras, os investimentos, os estudos. O sucesso.

A filha, a casa naquele bairro tranquilo, aquele jardim florido, o conforto, os cães e os gatos. A família.

Eles deram as mãos com firmeza e olharam para o céu.

A felicidade.