DEPOIS DE TUDO VIRAR MERDA

Vida sem graça dá arrepios.

Imaginar uma caminhada sem ciladas, motins,

terremotos e tsunamis enche de urticária.

Saber que meus dias passaram sem ter entrado

em guerra, sem ter surtado, chutado o pé da barraca,

feito o diabo, entristece pra cacete.

Supor que fui marionete manipulado por

emoções do entorno, sem ter me untado

no gosto amargo de errar o roteiro

da intenção, da fé, de tudo, é de doer.

Gostoso é reacender depois de parecer morto,

contemplar as cicatrizes das chibatadas, aplaudir

de pé erguer o arranha-céu depois de tudo ruir,

tudo ir pro espaço, tudo virar merda.

Assim virei herói de mim mesmo, agraciado

por não ter pendurado as chuteiras de vez.

Agora que vou descortinando as delícias do

envelhecer, o tesão peculiar que só o amadurecimento

presenteia...UAU!

Percebo que cada fiapo delicadamente ungido

pelo ar desafinado, pelo chão quebradiço,

pela indigestão tanta, 

foi a bênção mais abençoada dos céus,

cada fio de cabelo branco é lastro de aço,

no qual posso me pendurar sem medo e

balançar, balançar e balançar.

Salvem os becos sem saída, os desencantos,

quando tudo deu errado, salve, salve!

Toda reverência a quem ou a que for

pelas vaias, porradas e desgostos recebidos.

Valeu!!!

 

 

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 05/09/2022
Reeditado em 05/09/2022
Código do texto: T7598541
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