DEPOIS DE TUDO VIRAR MERDA
Vida sem graça dá arrepios.
Imaginar uma caminhada sem ciladas, motins,
terremotos e tsunamis enche de urticária.
Saber que meus dias passaram sem ter entrado
em guerra, sem ter surtado, chutado o pé da barraca,
feito o diabo, entristece pra cacete.
Supor que fui marionete manipulado por
emoções do entorno, sem ter me untado
no gosto amargo de errar o roteiro
da intenção, da fé, de tudo, é de doer.
Gostoso é reacender depois de parecer morto,
contemplar as cicatrizes das chibatadas, aplaudir
de pé erguer o arranha-céu depois de tudo ruir,
tudo ir pro espaço, tudo virar merda.
Assim virei herói de mim mesmo, agraciado
por não ter pendurado as chuteiras de vez.
Agora que vou descortinando as delícias do
envelhecer, o tesão peculiar que só o amadurecimento
presenteia...UAU!
Percebo que cada fiapo delicadamente ungido
pelo ar desafinado, pelo chão quebradiço,
pela indigestão tanta,
foi a bênção mais abençoada dos céus,
cada fio de cabelo branco é lastro de aço,
no qual posso me pendurar sem medo e
balançar, balançar e balançar.
Salvem os becos sem saída, os desencantos,
quando tudo deu errado, salve, salve!
Toda reverência a quem ou a que for
pelas vaias, porradas e desgostos recebidos.
Valeu!!!