Setembro Amarelo

Hoje eu liguei para o centro de ajuda psicológica voluntária. Eu era o número 46, segurando uma corda e olhando para um gancho no teto. Minha mãe está dormindo e meu pai não conversa comigo. Não tenho idade para ter amigos que topem sair no meio da madrugada de uma terça feira para beber vodca sem medo de morrer no dia seguinte. Não tenho formação. Não tenho vontade de ligar a tv. Amanhã eu trabalho. Eu odeio meu trabalho. Amanhã eu tenho faculdade depois do trabalho. Eu odeio meu trabalho. Mas sem ele, não consigo fazer faculdade. Mas com ele, mal consigo fazer faculdade. Estou em um ciclo sem volta. Em um ponto sem retorno. Alguém que me ama disse para eu não tomar nenhuma atitude enquanto me sinto assim. Mas quando eu não me sinto assim? A noite roda, o dia voa, e eu sempre me arrependo de ter saído da cama. Tenciono a corda em minhas mãos. Sou o número 46 ainda. Imagino se o número 45 não teve a mesma paciência que eu tive e está morrendo de overdose neste momento. Penso no número 44, o que o fez ligar para lá? E o número 43? Será alguém que eu conheço? Pode ser qualquer um. Perco a paciência. Deixo a corda na varanda e vou pra cama. Amanhã eu me mato em autopiedade e arrependimento para depois renascer como um molde barato de falso afeto.

Amanhã eu ligo pra alguém... Cheque seu número,talvez eu tente falar com você. De repente você pode salvar minha vida.

Nota- Lendo alguns comentários, resolvi esclarecer o intuito deste texto. Essa crônica é baseada em uma história que escutei em um grupo de apoio. Saibam que ninguém está só nesta batalha. Vamos conseguir sair dessa! A ideia do texto é lembrar que não é só em setembro que pessoas se matam. No mais é isso, um forte abraço!

Guilherme Henrique

PássaroAzul
Enviado por PássaroAzul em 04/09/2022
Reeditado em 04/09/2022
Código do texto: T7597793
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