BADALO, VISUAL E MUFUNFA
BADALO, VISUAL E MUFUNFA!
Convido um amigo par uma caminhada pelo Jardim Botânico. Lugar tranquilo, ideal para quem já ingressou, como nós, no clube da famigerada terceira idade.
Muita sombra, verde de todos os matizes, ar pu- ro e, ainda por cima, com um barzinho onde sempre se pode recuperar, ao final do exercício, o fôlego com uma aguinha de coco e preparar a barriga para o almoço próximo, trincando uns salgados.
- Eu é que não ponho os meus pés naquele parque - reclamou logo o meu amigo quando lhe fiz o convite. Não é lugar para uma caminhada decente. Fica cheio de velhinhos ou então de crianças de escola, numa barulheira infernal. Além disso, ficar dando voltas e mais voltas para completar míseros quilômetros, é demais para minha beleza.
- Deixe-se de histórias, homem! Já temos mais de sessenta anos e lá vem você dizer que os velhinhos o incomodam. Reparou na velhíssima expressão que acabou de usar? Ninguém tem mais coragem de dizer “demais para a minha beleza”. É expressão totalmente caduca. Enfrente a realidade. Você é um ancião e pron- to! Se a quilometragem no Jardim Botânico é pequena, basta parar e alongar-se. Aproveite e faça flexões, ab- dominais. Com jeitinho pode até conseguir uma vaga no Tai-chi-chuan. Atividade é o que não falta, quando se põe a imaginação a trabalhar e, nesse ponto, acho até que a nossa geração ganha disparado dessa garotada que anda por aí.
- Se é para fazer mais coisas do que caminhar, meu velho, prefiro a Lagoa, com praças e gramados am- plos e equipes de alongamento, sempre de plantão. Tem até pedalinho, para os caras-de-pau. Não, eu não vou caminhar no Jardim Botânico. Estou ainda muito jovem
de espírito para ficar atirando migalhas de pão para os peixinhos, sob palmas da meninada ou parando para ver micos e caxinguelês pulando de galho em galho, até desaparecerem, sob gritinhos de alegria da plateia e da exclamação de sempre: “Lindos!!!”
- Você está insuportavelmente ácido. Afinal, qual é a sua?
- Ah, resolveu apelar para o vocabulário do nos- so tempo? A minha é muita ação! - insistiu o amigo. Ação me faz sentir jovem, com disposição para enfrentar a vida, que hoje não está fácil. Que tal se caminhássemos no calçadão do Leblon? Tem muita gente pra ver, ami- gos que encontramos a toda hora, lindas meninas, a turma dos velhinhos do vôlei pra gente debochar e as maravilhosas duplas femininas que por lá treinam, todos os dias.
- Agora saquei a sua, malandro! Não é bem da caminhada que você gosta. É do badalo, do visual, da mufunfa. Por isso não quer saber do Jardim Botânico.
- Nada disso. Você sabe que eu levo a caminha-da muito a sério, mas um complementozinho de visual belo e divertido ajuda bastante, não acha?
Balancei a cabeça concordando e tomamos o caminho do Leblon. Convincente, esse meu amigo