UM DIA ENSOLARADO NA ALMA
Tânia de Oliveira
Às vezes passo períodos parecidos, rondando a necessidade de superficialidade. Cansada da profundidade da vida, do pensar, do filosofar,
da análises das raízes das coisas...
Fico então deitada na grama, ou na cama, sem me permitir pensar. Só relaxar! Vejo então que a ociosidade para mim, tem um preço consciencial. Algo dentro de mim ( da profundidade) diz assim: - A vida é séria, não se pode perder tempo.
O quê? Tempo...tempo..tempo...
Eu sou lá o Coelho de Alice no País das Maravilhas? Aí refuto mesmo!
Mas não chega a tanto: é só para me deliciar um pouco comigo mesmo em um canto.
Passo alguns segundos e lá vem a tagarelice mental tirar-me de minha bolha! Reajo: levanto-me rápido, passo limão com mel no rosto. Ponho água morna com bicarbonato nos pés e procuro relaxar agora com a toalha na cabeça. Pego meu livro " O Melhor das Comédias da Vida Privada" do Luís Fernando Veríssimo, e fico a sorrir com seus textos deliciosos. Aí as endorfinas falam comigo: delícia, menina! Melhor que eu tivesse uma banheira com água morna! Sempre foi um sonho bobo ou não, um sonho que nunca me esforcei para concretizar. Mas, não vou refletir porque não fiz!
Cheguei no capítulo A Retranqueta do Polidor, aí parei.
O título convidou-me a pensar...não quero!
Aí, lembrei que tenho a praia para me deliciar em um banho de mar! Sartre diria: convite do existencial...O quê? Filosofar? Nunca. Tirei as melecas do rosto, esqueci os quilinhos que adquiri, vesti meu biquíni mais colorido, enfeitei-me de amarelo: Saída, chapéu, chinelo...tudo amarelo! Ah, Van Gogh adoraria me pintar agora. Pareço um girassol. Rebolei os quadris, olhei no espelho e gostei do que vi. Estou linda, leve e solta!
Depois de cinco minutos: Pajuçara! Ah, que azul mais azulado! Que mar mais lindo de água morna! Tirou-me a culpa da ociosidade e fez-me sentir abençoada por ficar feliz na superficialidade, sem cobrança. Afinal, a vida pode ser uma dança! Lá vem eu rimar! Poesia também não. Pode puxar profundidade e me trazer reflexão! Descartei. Melhor: Mergulhei. Quase ninguém na praia. Melhor assim posso nadar sereinha, golfinho, surfar sem prancha nas águas "levando caldo das ondas"sem ninguém para ver ou rir das minhas criancices. Nada de crawl, peito clássico ou outras coisas técnicas. Isso são "coisas sérias". Boei na superficialidade da água que rima com meu estado atual. E fiquei agora mergulhada no azul de Monet! Que coisa mais linda, excitou meu lado de poeta! Deu-me vontade de pintar aquela beleza com tintas, tela e poesia. O mar, o céu, a flor de meu biquíni e meu estado de alma estavam todos azulzinhos.
Poxa, como tenho vida interior pensei: que amor!
Assim continuei me dando ao luxo de descobri-me feliz e me deliciei no meu auto carinho! Sou feliz, e nem sabia, vixe! Simples assim!