Espinha

Ela começa como uma pequena massa inofensiva. Uma elevação sobre a pele reta ao redor. Logo depois ela se avermelha. Cresce. Incha. E então explode. Chega sutil mas sai de forma espetacular. Quando ela surge, não se sabe qual tamanho terá. Quanto mais se olha, mais parece que ela cresce, mais ela incomoda. Quando é ignorada, parece que incomoda menos. Ela é feia. Deve ser escondida. Tapada. Disfarçada. Elas me acompanharam por toda a vida. Mas passei a melhorar o meu olhar a elas ao perceber que o processo da espinha é o processo de recuperação de todo o corpo. Ela é uma pequena demonstração de um corpo que se cura. Que cria um problema e depois some com ele. Um corpo que trabalha num modo automático para nos livrar dos problemas que surgem. Uma coisinha tão pequena, mas quanta apreensão. Quanto mistério. Quanta biologia. Hoje, quando chega, ela é previsível. Sei de tudo. Adaptei-me às suas fases. Chega como uma conhecida, sem surpresas. Trato ela sem espanto. Sei que ela é a representação do meu corpo trabalhando para o meu bem.

Gil Barreto
Enviado por Gil Barreto em 01/09/2022
Código do texto: T7596191
Classificação de conteúdo: seguro