Jurado de Morte
Como todo pré-adolescente preto dos anos 80/90 eu me achava feio, mas quando cursava a terceira série do ensino fundamental, umas meninas da sala de aula disseram que eu era bonito, acreditei! A partir daí a minha vida mudou, e "namorar", era a única matéria que me interessava na escola, mas tal disciplina não fazia parte da grade curricular...
Por esse motivo, eu, que jamais havia sido reprovado, fui duas vezes. Minha mãe (que não tinha dinheiro para desperdiçar) me tirou do colégio particular e tentou me matricular num público, mas não conseguiu, e eu fiquei ocioso o ano todo…
Eu sempre ia à casa do também ocioso Zói (meu melhor amigo), muita gente ia lá. Bará,(um aspirante a bandidão) às vezes também ia. Numa dessas visitas à casa do Zói, Bará avistou uma bicicleta cara no quintal do vizinho e decidiu roubá-la assim que possível…
Bará passou a ser mais frequente na casa do Zói, esperava o momento oportuno para praticar o furto. Como recompensa por ceder a casa como base de observação, Bará prometeu que depois que vendesse o fruto do roubo, daria "um qualquer" para o Zói e para mim, lógico que aceitamos, mas do nada o Bará sumiu…
Passados uns dias, o Zói, apavorado, me disse que ia se esconder na casa dos seus parentes, e que eu deveria fazer o mesmo, pois o Lelê (um homicida local) queria nos matar. O tal Lelê era amigo do Bará, que sumiu porque tinha sido preso, e o "dedo nervoso" achava que eu e o Zói que o tinha caguetado. Passei uma semana na casa da minha tia em Realengo…
Eu, que era "rueiro", não botava a cara no portão depois que voltei do "exílio" em Realengo. Mas para o meu alívio e do Zói, o Bará fugiu da cadeia há tempo de avisar ao Lelê que tinha ido em cana por outra parada, e que nós, nada tínhamos a ver com o ocorrido…
Soube depois, não sei por qual motivo, que juraram o tal Lelê e o Bará de morte, mas diferente do nosso caso, cumpriram a jura.