Depois d´aquela madrugada
Corria tudo bem, esperava conquistá-la naquele baile. Disfarçava, via os braços envolta dela, os lábios que não eram seus de encontro dela, doía como uma picada de um inseto venenoso, cenas terríveis, o salão estava lotado, casais apaixonados deslizavam ao som romântico de uma coletânea de músicas romântica da época. Sentado só na mesa ao lado, ao observar tudo não consegue se levantar; desbruçado sobre a mesa, vê ela cadeira ao lado, descalça, ela ria e falava alguma coisa que não podia perceber, mas era a meu respeito. Queria se aproximar; ela e na cadeira recuavam, passavam sob outras luzes que brilhavam em seus cabelos e em seus olhos.
E havia muitas vozes, de homens e de outras mulheres, ruído de copos, música. Mas isso tudo era vago: Ele fixava a jovem mulher da cadeira, atento ao jogo de sombra e luz em sua testa, em sua garganta, nos braços: seus lábios moviam-se, via os dentes brancos, ela falava alegremente. Talvez fosse alguma coisa dolorosa para ele, e percebeu que os trechos das frases era pra ele, mas ela estava tão linda assim, sentada em sua frente, os seus olhos verdes se destacavam, o vestido era chamativo e leve, que o prazer de sua visão bastava; uma luz vermelha corou seu ombro esquerdo, desceu pelo braço com uma carícia, depois chegou até o joelho. Eu tinha a ideia que tinha conquistado, mas, ao mesmo tempo, isso lhe provocava arrepio, sentia algo doendo; sua imagem tão viva era toda sua, e cada vês mais ela se entregava, de repente que parecia ter prazer, como se piscar de olhos transformou sua beleza, numa secreta palpitação.
Ergueu-se, foi até a varanda, já era madrugadinha. Sobre o nascente, onde a barra do dia ainda era uma vaga esperança de luz, havia nuvens leves, espalhadas em várias direções, como se durante a noite o vento tivesse dançado no ar. Depois, aos poucos, que acendeu o abajur um clarão carmesim se formou, as paredes do seu quarto se ficaram multicores. Ele ouvia a pulsação de um motor; o vizinho ao lado acabou de chegar do baile, num impulso foi no vitro, viu ela com ele se desmanchando de amor. Entendeu que tudo foi pesadelo, vai fazer e tomar um café bem quente, volta pra cama, passa as mãos ainda úmidas em seus cabelos, vai antes tomar um banho frio, sai no terreiro recebe o vento da madrugada, aquele pesadelo teve origem deu coração não fiel. Duas aves acasalavam sobre seu telhado, entendeu que o amor é recíproco e não unilateral.
Dentro de casa, no silêncio, parecia ainda haver um vago eco das vozes que tinham falado na noite: Os móveis e as coisas ainda respiravam a presença de corpos e mãos. E a poltrona abria os braços esperando recolher outra vez o corpo da mulher jovem. Apaga a luz, fica olhando no vazio
Procurando entender o inexplicável. Uma brisa lhe tocou. E havia um sossego, uma tristeza, um perdão, uma paciência e uma tímida esperança estalado depois daquele furacão.