Palavras BVIW

A palavra fere, resgata, acolhe, apazigua, edifica, constrói. Minha irmã confirmou o que estou dizendo. Com um diálogo casual, consegui ajudá-la a elaborar uma situação que, para ela, era motivo de sofrimento.

Venho de uma família pequena, somos duas irmãs. Casei-me muito cedo e minha mãe me julgava incapaz de organizar uma família. Ela sempre estava por perto ajudando, mas também cobrando esta ajuda com atenção e obediência. O almoço de domingo era sagrado em sua casa, não existia a opção de não ir. Às vezes eu e meu marido queríamos passar um domingo sozinhos em casa, mas era impossível ser entendida e perdoada por não comparecer ao almoço de domingo. Nas poucas vezes que escapei destes almoços, inventava um compromisso e tinha o cuidado e o trabalho de tirar o meu carro da garagem e deixá-lo estacionado vários quarteirões longe do meu prédio. Ela poderia vir conferir se eu estava em casa e fez isto várias vezes. Outro dia, conversando com minha irmã sobre filhos que crescem, que vão embora e que temos que dar este espaço a eles, contei esta história.

Dias depois, ela me disse o bem que a minha história fez a ela. Ela percebeu que estava repetindo o comportamento da minha mãe e depois que eu lhe contei este fato, ela entendeu que amor não é só presença e que seus filhos cresceram e precisam de espaço. Com a minha fala, ela conseguiu elaborar uma maneira melhor de lidar com o seu ninho vazio e a revoada dos seus filhotes. Ela entendeu que podemos amar nossos pais, como ela tem certeza que eu os amava, e ter uma vida própria. Este desejo de autonomia, não é sinônimo de desamor ou de esquecimento dos filhos e que todos temos este direito.

Uma conversa casual, ajudou minha irmã a elaborar suas perdas. Sem querer usar clichês, dizem que “pé de galinha não mata pinto”, mas pode dificultar e até mesmo impedir muitos voos.

Márcia Cris Almeida

29/08/2022