Erótico XXIII
À janela tinha metade do corpo visível. Nádegas marcadas no tecido largo descosido onde era suposto que tudo se escondesse. Ria e falava do alto para a rua e a abertura revelava, de parceria com a palidez da pele, a penugem que fluía de todos os lados, o embalar do tronco que se imobilizou com o silêncio, o anúncio a néon a mostrar-se no recorte da figura, a perda da visão que abrira sulcos na memória. Despido o pijama chegou a sua nudez ao convite mudo, encostou-se devagarinho e foi entrando num calor que escorria até ao fundo dos suspiros. Sentiu a firmeza da resposta, abarcou o todo, percebeu na ponta dos dedos o botão fremente, ausentou-se e voltou. Na rua passava o eléctrico quando a enxurrada se fez uivo.