Texto para um dia sobre o tempo.
Há alguns dias percebi que precisava comprar um aspirador de pó. As teias nos cantos, entre as paredes e o teto, indicavam que o tempo passou onde moro. Eu precisava de alguma forma começar e, ao limpar o espelho, descobri que inclusive passou no meu corpo. Tirei as cortinas para lavar e também havia passado lá fora.
Do nada, tudo me pareceu urgente. Aspirar a casa e o abdômen, tintas nas paredes e cremes antirrugas, correr nas ruas até reconhecer todas as esquina e sarjetas da minha cidade. Quando paro, ele sempre corre sem mim, não me espera. Acelera tão rápido e minhas pernas nunca são melhores que antes.
Com o Tempo não há quem negocie. É um mecanismo louco, mas que possibilita realizações enquanto somos derrotados. Tudo que conquistamos perdemos com e para o Tempo. É o adversário natural de todos, porém, é leal, justo e implacável.
Hoje acordei e não avistei os velhos que variam as calçadas antes das partidas de dominó que também não ocorreram. Vi jardins abandonados que já foram tão bem cuidados. A antiga casa da minha tia, que fazia bolo de café e atualmente mora no cemitério, virou garagem. O progresso chegou no campo de terra. Tudo se transformou e eu não posso e nem quero mais ser o mesmo.
Apreciei o canto dos pássaros, disse um “oi” à colega fofoqueira do trabalho, perdoei o que nem deveria ter me importado e transmiti uma mensagem de bom dia ao máximo de pessoas que consegui. Comprei um planner na intenção de ser melhor por mim. Espero que o Tempo um dia sinta orgulho em dizer que venceu um adversário feliz.
Alex Menezes