À PROCURA DE UM BANHEIRO
Não sei como é na sua cidade, mas aqui, no Rio de Janeiro, é complicado achar um banheiro público. Por conta dessa falha grave no nosso planejamento urbano é fácil entender o desespero de quem precisa achar um banheiro diante de uma necessidade urgente. Eu sou um bom exemplo.
Na semana passada eu estava no metrô, indo para o dentista no Centro, quando me deu uma cólica louca e uma vontade tremenda de correr para o banheiro. Eu estava em pé no vagão e não sabia o que fazer. Tentei me acalmar e não pensar no problema. Resolvi focar minha atenção em algumas passageiras, tentando adivinhar suas profissões. O estratagema deu certo.
Quando finalmente cheguei à estação onde deveria saltar, me senti mais confiante. Agora era só aguentar mais uns dez minutinhos.
Assim que entrei no prédio do consultório, o porteiro me direcionou para um dos quatro elevadores, não me dando tempo de verificar os andares. Mal eu entrei, a porta do elevador fechou, então, pedi para um senhor apertar o nove.
— Mas este elevador não para no nono — ele respondeu. — Você pode fazer o seguinte, salte no décimo e desça a escada.
— Boa ideia — murmurei.
Desci os degraus sem fazer movimentos bruscos ou me apressar e me dirigi à sala do dentista. Toquei a campainha e nada. Toquei uma segunda e uma terceira vez, mas nada aconteceu. “Meu Deus, isso só pode ser brincadeira”, pensei.
Resolvi pegar o elevador e descer. Encontrei o porteiro e perguntei se havia algum banheiro por perto. Para minha alegria, ele disse que sim.
—Vamos. Vou lhe mostrar onde é — ele propôs. — Ih, foi mal! O banheiro fica dentro da livraria, mas ela ainda está fechada. Desculpe.
Agradeci a ele e resolvi sentar no sofá do hall de entrada e esperar. A essa altura, eu já estava suando frio dos pés à cabeça. A impressão que eu tinha é que não daria tempo.
Liguei para o dentista e ele se desculpou.
— Estou preso num engarrafamento. Vou demorar um pouquinho. Fique aí me aguardando.
Entrei em pânico. “Meu Deus, o que vou fazer?” Os pensamentos mais catastróficos passavam pela minha mente.
De repente vejo um rosto conhecido entrar no edifício. Era a auxiliar do dentista. Fui ao seu encontro sorrindo. Engrenamos num papo e pegamos o elevador, conversando bem animadas. Eu estava aliviada porque dali a pouco o meu martírio iria acabar. No entanto, o inesperado aconteceu. Após o último passageiro saltar no oitavo andar, o elevador desceu. Na verdade, nós entramos tão distraídas que não apertamos o botão do nono.
Fomos até o térreo, pressionamos o número nove e continuamos a conversa. Eu fingia estar muito à vontade, porém era só aparência. A minha aflição era tão grande que o tempo parecia passar devagarzinho.
Saímos do elevador e fomos andando até a sala. Eu não sabia mais o que fazer ou falar. Estava desesperada.
A assistente abriu a bolsa e começou a procurar a chave. “Senhor, isso não pode estar acontecendo comigo, deve ser um pesadelo”, pensei. Finalmente ela achou a bendita chave e eu pude me dirigir ao banheiro.
Uma história como essa pode parecer divertida, mas na verdade é um intenso constrangimento para quem vive a situação. Precisamos de banheiros públicos limpos e bem cuidados. Além dos transeuntes, há um grande número de pessoas que trabalha nas ruas. São carteiros, vendedores ambulantes, garis, motoristas de ônibus, pessoal que faz entregas e também há a população que mora nas ruas. Banheiro público não é luxo, é necessidade.