Metalúrgica

"Bom dia" "bom dia" "bom dia"!

É quase um mantra, mas não tem nada de espirituoso nisso - tá mais pra uma repetição sonora que a gente emite como forma de cumprimento pra começar a rotina…

Bem, mais um dia se inicia, mas não é diferente do anterior: a ânsia que acabe para dar lugar à sexta. Deve haver uma palavra na psicologia para aquilo que dizemos, ou cantamos, quase que abruptamente, de modo intermitente, meio como fuga do trabalho ou talvez de tédio mesmo.

Sei que é vago, mas nem tudo precisa fazer sentido…

Sentado na fila de espera, espero que o exame não detecte meus sentimentos mais profundos; obscuros; abismais.

Enxame de gente, que vem e vai, que não sei o nome nem o sentido de ser. Será que magoou alguém, será que bateu no cachorro, será que roubou um carro, será que se masturbou ou tentou suicídio?

Não sei, mas às vezes fico pensando nas possibilidades, talvez por entretenimento.

A sexta vem, mas não é diferente das demais:

Festa, cerveja, solidão, ressaca…

Certamente a sexta vem… só não vem o sentido.

Bati o cartão de ponto. Pronto pra mais um "bom dia". Mas nem tanto. Às vezes só queria voltar para aquele sonho que tive há pouco: era o mar, distante e impassível, e pessoas que há muito não vejo e que nunca vi. Algumas me são queridas, outras não. Mas eu sei que nem tudo faz sentido; não precisa fazê-lo, afinal. Agora não é o marulho do mar, mas o barulho da bigorna, o maçarico, a solda e o aço…

E o cansaço da rotina.

E o medo do fracasso…

Algum pedaço de afeto, de afago...

Um abraço

E o arrependimento de algo… batendo…

Alguma coisa latente, lá dentro, doendo como um inchaço...

Às vezes, quase raramente, a gente se esquece que é máquina e se encanta com algum bicho que aparece e quebra a rotina feia:

É uma lagarta, um besouro, uma lagartixa escondendo o ovo, e, mais comumente, um ou outro rouxinol cantando no telhado.

Na esquina um bêbado com uma lata de cana...

Lembrei de bater o ponto, no entanto, esqueci minha alma em cima da cama…